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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

O relato da normalidade

“Around the grave in the rundown cemetery were a few of his former advertising colleagues from New York, who recalled his energy and originality…”.

O início do livro Everyman (penso ainda não aportou por cá, traduzido) seria algo como “ao redor da tumba, no esculhambado cemitério, estavam alguns de seus antigos colegas nova-iorquinos de publicidade, os quais relembravam sua energia e originalidade...”.

Capta com certa difusa ironia o que se detona em todos os enterros: -"... e era homem tão bom, tinha tanta energia,..."

Philip Roth é grande escritor, talvez fator indelével do final do século XX, levando à literatura o inexorável e cruel, monótono, cotidiano. Marco de escrita, sua óbvia hipocondria biográfica fascina a geração de leitores e outros escritores, assim como roteiristas. Basta ver a profusão atual dos temas médicos nas séries de televisão.

Neste livro, Roth acerta algo consigo mesmo, a descrição de tudo passado, com a criação literária genial. Apimenta ao público aquilo se deseja ler, sem profundidade. Sexo, doença, alegria, inveja, morte e alguma depressão cotidiana.

Um belo livro, simples e agradável. Fala de nós, por isto o encanto. Que venha logo, bem traduzido, para adoçar o dia-a-dia e nos fazer pensar:

Somos assim?


A lerdeza me persegue, erro grave cometido. Vejam abaixo, o livro já foi traduzido, anda em todas as boas casas do ramo. Editado em 2007 pela Companhia das Letras, tradução acribológica de Paulo Henrique Britto. Comprem e divirtam-se, Roth é sempre um belo trabalho!

Um belo livro "Homem Comum", recomende-se. Traduzido por Paulo Henrique Britto, Companhia das Letras 2007.

Philip Roth, uma referência para a escrita atual.

Comentários (clique para comentar)

Anonymus - 03/11/2008 (10:11)

O P. Roth é o grande escritor da atualidade. Uma lástima que a Cia. das Letras não divulgue melhor os seus lançamentos, investem pouco no sujeito. Por isto, Hermó, que v. provavelmente ficou sem saber dos novos e traduções...

Hermógenes - 01/11/2008 (11:11)

O cara é bom demais, mereceria o Nobel. Mas o anti-gringismo atual, mundo afora, não permite esta incorreção política. O talento colide com a ideologia, uma m... isto. Mas, também desta forma, somos assim. Saudades de si, Kathy!

Kathy - 31/10/2008 (18:10)

Caro Hermo Ia responder que jé havia exemplar bem traduzido, quando me deparo com a atualização no artigo e nos comentários. Bem escrito e bem tarduzido, sem dúvida. O percurso do "herói" e o jogo de tempos do livro são excelentes. No entanto, por ter vivido o "lado de cá" do tal Homem Comum, fica-se com a impressão de que somos assim, de fato. Beijo grande

- 31/10/2008 (15:10)

epa! eu não disse que não estava traduzida, mas é que só tinha essa edição gringa. gostei do comentário, viva!

Hermógenes de Castro & Mello - 31/10/2008 (14:10)

Minha pequena "informante" de literatura, que conhece, (ando pouco em livrarias, inclusive virtuais, é vergonhoso..,) dizia que ainda não havia sido jogado, lançado, arremessado, whatever e cedeu-me o dela, em inglês. Mas faz algum tempo, ando lerdo. Muito ocupada a mocinha, preparativos de uma grande viagem; enganou-se, imagino. E eu arrasado com tudo isto, é tão longe para onde vai... Vou consertar o meu engano, para eliminar de vez, pois incertitudo rei vitiat actum

MarBidi - 31/10/2008 (12:10)

Caro Hermó - este livro já está (bem) traduzido: chama-se "homem comum", com tradução de Paulo Henriques Brito, grande tradutor, aliás. "Em torno da sepultura, no cemitéro malcuidado, reuniam-se alguns de seus ex-colegas de trabalho da agência publicitária nova-iorquina, relembrando sua energia e originalidade..." é como começa, denunciando em você um tradutor potencial, de qualidade. E, já que você gosta do cara, sugiro a leitura de "Animal Agonizante", "The Dying Animal" se não me engano, posterior, excelente também, talvez mais seco e desiludido ainda, mais terminal digamos, traduzido pelo mesmo Paulo Henriques. Ambos, e outros mais deste excelente autor, estão disponíveis "nas melhores casas do ramo", como diriam num "reclame" de... nossa época, caro e velho Hermó. Abraços.