A grande quebra em câmera-lenta
Nesse período doido pelo qual passamos, analisando e sentindo um pouco, infelizmente, a quebra em câmera lenta dos mercados, mundo afora é divertido observar-se ritos e modos das pessoas. Nos faz pensar em outras coisas, abranda o cotidiano pesado.
O crash lentíssimo, como aquelas ondas imensas varrendo cidades em filmes de ficção, é curiosamente exclusivamente e definitivamente somente, de fato, humano. Quando surge o fim-de-semana, sextas-feiras à noitinha, pronto: encerra-se o tsunami, interrompido no quebrar da sua onda espumante, a continuar o caos às segundas-feiras. Não há catástrofes financeiras, como dizem os francofônicos: dans le weekend.
Aos demais membros da comunidade do planeta azul, de cantarolantes sabiás à procura de suas companheiras aos fedorentos cães cheiradores de postes, nada disto importa. A natureza segue seu curso, indiferente.
Em 1929 muitos pularam dos prédios em Nova Iorque, contabilizadas as pesadas perdas. Seu trabalho perdido, as ações não valiam o papel impresso. Humanamente matavam-se pela depressão instalada, o vazio do futuro. Aquilo amealhado, por trabalho ou até tantinho de especulação, de repente era apenas peido a desvanecer na história da imbecilidade.
Hoje leio diante do pavor em perder o poupado, como ocorrido 79 anos atrás, os europeus recolhem-se ao mais potente modus economicus, em semanas desta quebra de mercados, os alemães evitaram de tal maneira comprar algo desnecessário, a maior rede de supermercados por lá contabiliza perdas de valores em suas ações em quase 17%, só esta manhã. Não é possível arregimentar-se cidadãos para durante duas semanas não utilizarem os aviões, a protestar contra as maluquices feitas com cidadãos pelas autoridades e companhias aéreas, desde a revista indecorosa ou eternos atrasos. Entretanto a proteger a poupança, milhares sem mútuo entendimento simplesmente deixam de comprar.
Humano, sem dúvida.
Na Islândia em menos de mês as compras de novos automóveis cederam em 80%. Aqui os importadores, apesar da arrancada do dólar tentam empurrar o que não se compra mais lá fora, com preços ainda fixos em nosso já, por que mentir?, cambaleante real.
Os ritos, o retorno: imóveis imediatamente são cotados na moeda dos gringos. As ruas já mais vazias, menos trânsito, ódio aos governantes e banqueiros; mundo afora. Para socialistas e democratas tocar-se suas poupanças os faz apenas iguais. Pelam-se de pavores em ficar com nada.
E na grande cidade o desprezo indireto àquele dizia ser marolinha o tsunami externo, deixando-se de votar em sua candidata. Niguém relaxou, nem gozou.
Novos tempos, pelo visto, uma depressão à frente, quem sabe? Assim como os indivíduos, o coletivo sofre de nuâncias no humor, nem sempre explicáveis. Penso ter lido em torno de 20 explicações diferentes sobre a origem da recessão a instalar-se. Ninguém sabe.
Pode ser resolvida a questão para um ou outro, a curar sua depressão com alguma terapia. A nós bilhões da coletividade humana só resta esperar passar.
Somos assim.