Saramago, Sejima e Nishizawa
No sábado passado e um pouquinho chuvoso ao fim da tarde, de frio
incomum para a época do ano, nessas nossas incertezas globais de aquecimento e
suas origens (e eu mais velho, sentindo mais frio, dizem ser comum...) fui
observar dois happenings, cedendo às gringuices comuns hoje em dia. Por
que lutar?
O primeiro foi curioso passeio eletrônico ao blog do
grande escritor português José Saramago. Moderadamente frustrante.
Escritos pouco cativantes, opiniões que mesmo razoavelmente exaladas acabam na
necrópole das idéias ultrapassadas de rebeldia, revolução, desobediência e
inconformismo com o establishment. Lembrei-me de carta que o homem me
escreveu, anos atrás, quando solicitei certa (recusada, por bons motivos) orelha
para um livro que editara. O texto era desperdício ser a mim enviado
(bastaria curto não, de diligente secretária), desconhecido
micro-editor por bandas brazucas. Porém a honra de receber e a leveza do escrito
com cristalina, porém, diria, poética lógica, deixou-me como em transe, à época.
Guardo-o comigo até hoje. Penso talvez o grande Saramago tenha se
fatigado de lutar e conquistar o privilégio de grandes textos nos
escaninhos do cotidiano. Não é mais menino, pelo que sei; e cansamos, às vezes.
Mas não são textos incômodos ou enfadonhos, longe disto. Apenas um tantinho,
digamos, ultrapassados. Mais em http://blog.josesaramago.org
O outro passeio, físico, leva à especial mostra com maquetes e descrição de
projetos de arquitetos japonêses, a dupla Kazuyo Sejima e Ryue
Nishizawa e sua mostra no Instituto Tomi Ohtake. A impressionar a maquete
monumental lá exposta, de estimo uns 50 metros quadrados, do centro de
treinamento no fabricante de relógios Rolex, em Lausanne na Suíça. Obra
distinta do que se imagina em arquitetura convencional, provavelmente de difícil
execusão e, com ódio por este meu lado prático, manutenção. Mas a Suíça é país
de recursos fartos e os relojoeiros imagino também, podem se dar a certos luxos.
Detalhes em http://learningcenter.epfl.ch/ .
Dizem os especialistas ser a mais interessante obra arquitetônica da
atualidade em construção, com término previsto para 2009. A maquete de fato,
pelas próprias extensões, é impressionante e a ondulação a produzir (pobres
engenheiros a calcular...) algo que imagino não feito nesta escala, nem pelo
arrojado Oscar Niemeyer, em cuja obra o casal japonês nesta específica obra
certeiramente sentiu algum sopro inspirador. Mas para quem aprecia a arte da
modelagem e o rebuscamento arquitetônico porém com comedimento tipicamente
nipônico, sugiro ir ver. Mais em www.institutotomieohtake.org.br