Franzé Matos
Franzé Matos é um jovem autor nordestino, cujo talento em sua poesia filosófica, é inegável. Pedi e me concedeu a licença para repassar o perturbador poema Somos animais, reproduzido abaixo, a tocar-nos a áurea do que nos é tão cara, a vida, e negá-la sistematicamente a outros seres, a comê-los. Na passividade normal do cotidiano, o bifinho na mesa...
Somos animais
Franzé Matos
Em
sonhos provindos de cavernas do passado
Vejo
deturpados em voluptuosas correntes
Imagens decadentes de milhares de seres
Entre não contáveis joelhos e chifres
Vejo
releases da matança da qual compactuava
Estes músculos, joelhos e chifres
Antes de serem defumados
Eram
contemplados com a vida
Que
em nossas certezas de discernimento
Achamos que a qualquer momento a vida de outro ser podemos
tirar
Para
nos alimentar com desculpas mesquinhas
Dizimando os inferioes
“Pois sou o mais forte!”
Entre toneladas de sangue coagulados
Resultados de um dia normal
Em
corredores de carnificina
Vêem
apenas um caminho
Lacrimejando os olhos por seu indelével
destino
De
ser um produto comercial
Tratamos a vida como nosso maior bem
Somos leões com quem tenta nos privar
Mas
com a vida de bilhões de seres
Emitimos pareceres sem julgamento
Esperando apenas nosso estômago
acalmar
Com
o sangue de tantas vidas
As
quais somos cúmplices em retirar e dizimar
Mas
se já não nos consternamos com a morte de humanos
Porque se preocupar com a vida de um
animal?
Um
ser irracional que a única coisa que tem para nos dar é
prazer
E
falamos sem vacilo
“Eles são fabricados para
isso!”
A lembrar o famoso poema de Adele Cain, o Poema do Abatedouro
Slaughter-House
By Adele Cain
The child walks out
Seeing the world,
for what it is
She breaks down
She doesn’t feel the pain
As she hits
the ground
She’s already weeping
Already shedding tears
For all the
years, she’s been blind
And happy
Blind and happy she cannot be now
Shedding tears there on the ground
Blood dripping through her hands
Her blonde, perfect hair
Already black, with grief and blood
Grief
she has no right to feel
Blood that is not hers or even
Her doing
Just her drink, just her life blood
Lives needlessly fading
For her
perfect eyelid shading
And her perfect Sunday meal
And the pain we
should all feel
She feels now
There on the ground
Of the killing
field