Mistérios
Questão tanto complexa para este pobre escrevinhador, a compreensão do status de “atleta profissional”. Homens adultos, correndo atrás de bolas, batendo em bolas, protegendo suas bolas, segurando bolas, chutando bolas com pés, raquetes, tacos, etc.; nervosos, sérios, arrasados na derrota. Com torcidas se digladiando imbecilmente, a gritar, torcem e até matam, às vezes movimentando policiais, bombas de gás, enchendo prisões.
Antigo, eu sei. Já no coliseu romano matavam-se diante da torcida, mera diversão a alegrar o povo, panis et circenses, os pães e jogos necessários no imaginário político. Argumenta a quem apresentei minha incompreensão, ser algo similar ao ofício do escritor: discorrer sobre os mais variados temas em contos e romances, para, no fundo, divertir o público leitor. Um escreve, o outro joga, briga, veleja.
E percebo ambos, se de fato podem ser comparados, movem-se por desejar o reconhecimento, inegável. O bom livro com muitas vendas, os prêmios. Ao atleta os prêmios, os palcos das entregas, as reportagens sobre os feitos.
Leio, sem muito entusiasmo, confesso, Lobos do Mar (Editora Objetiva, 2008) depoimento do Torben Grael, o velejador nr. 1 do país. Ao Murillo Novaes, o de fato autor. Conta sobre sua vida, velejador e navegador desde a infância, os muitos prêmios, a dedicação, o reconhecimento e a regata volta ao mundo, Volvo Ocean Race.
As dificuldades, patrocínios, desentendimentos, escolhas de tripulantes, táticas e etc. Porém livro, digamos, pouco cativante, mormente pela questão do exposto enaltecimento da figura do depoente. Chega a constranger o leitor, a aperceber-se de sua pequenez, diante da descarga de autoconfiança e certa, perdoem-me se enganado, arrogância. As seqüências “eu e fulano, eu e sicrano...” são constantes no volume. Sempre o “eu” adiante, em algumas linguagens, em dinamarquês dos antepassados do atleta Grael, por exemplo, grosseira falta de modos, excetuado em momento onde se confessa algo.
- “Eu e Knud roubamos o pão da velhinha...”.
Entretanto muitos milhões de dólares adiante, em barcos caríssimos, enfeitados com todos os símbolos do poderoso capital de grandes companhias, parecendo carros alegóricos, cruzam os sete mares e competem entre si.
Os mais rápidos, com os melhores capitães e tripulantes, enaltecidos pelo público, gritando bobagens nacionalistas. Porém respeite-se, afinal:
Somos assim.