Ersatzbefriedigung

Dizem que pizza e sexo têm suas similaridades e paradoxos: mesmo ruim é sempre bom. Provérbio a deixar os jovens, discretamente, balançando afirmativamente as cabeças, já hoje as dificuldades nesta área existirem menos. Sexo, com o desenfrescalhamento atual, longe das frescuras das quais ainda sofria nossa geração, para a turma de hoje é como deve ser: natural sem maiores travas, excetuados os doentes e confusos de plantão. Pizza idem; barata e disponível, em todos os cantos. Na mais remota localidade. O termos ‘sexo seguro com preservativos’ ou ‘à calabresa com bordas recheadas de catupiry‘ já estão presentes até em recantos, com mil perdões, como Itajibá, Bahia. Podem não ser tão boas as opções, mas satisfazem.

De qualquer forma, com o avançar dos anos, nos apercebemos, nós homens (pelo lado do inimigo nada posso dizer), alguns ritos de Ersatzbefriedigung são necessários. Nem sempre damos conta do exigido. Nem sempre queremos dar conta. Nem sempre queremos algo mais.

Tal qual a pizza é fixa para os jovens, nós mais velhos procuramos o modo alternativo. Muitos de nós, que abominavam refeições à japonesa na juventude, sabem que o menor peso no estômago, à noite, é aliviante; melhor que uma portentosa al quattro formaggio...

No caso da desvanecedora impetuosidade da tensão sensual, idem. O evento inenarrável do papai a ler a revista masculina dos moleques (olha a discriminação = revista masculina/feminina...) e ater-se aos anúncios dos veículos... De moças nuas apresentadas, com suas partes pudorosas passadas na jardinagem e podadeira, e seus ricos e cômicos bigodinhos, o babaca a pensar nos pais da pobre criatura e suas vergonhas; e a terrível opção da meninota, a exibir-se como pernil em açougue, enfim, passa-se as páginas com alguma pressa. Quando retratam algo mais maduro, há pausa.

Mas o Porsche modelo Ersatzbefriedigung recebe mais atenção.

Assisti hoje uma destas gravações de vídeos de segurança (quem quiser ver, basta clicar aqui), onde em sala de escritório, cheia de personagens, computadores, sem janelas, um dos que por lá se encontra tem certo ataque. A destruir computadores, jogar objetos. Não me pareceu algo falseado.

A amiga que também viu, comenta ser muito triste. Replico com concordância, sugerindo naquele ambiente, pela proximidade imposta, como entre os ratos, alguém necessariamente entrar em crise, surtar. Diz ela, sim: ataque neurótico ou surto repentino, inevitável.

Pensa ter algum receio algo assim poder lhe acontecer. Recomendo como antídoto muito sexo. Pelo comentado da senhora, surge este ser o cerne da questão. A carência, a carência, a carência...

Percebo toquei o nervo, involuntariamente. Sugiro então Ersatzbefriedigungen, os alternative replacements a que Sigmund Freud deu vida, na nossa reles compreensão: bordar, mascar jujubas, páraquedismo ou talvez potentes banhos frios...

Me responde os banhos devem ser muito desagradáveis, mas por desinteresse ou inabilidade nos três primeiros casos sugeridos, pouco lhe resta.

Brrr... seu decisivo comentário.

Somos assim.