Livro-arte, experiência neoconcreta
Em escrevendo sobre a Cidade Maravilhosa, cito uma “excelente oportunidade de ir”.
Sem discriminar. Pois lá vai: fui ao lançamento do livro Experiência Neoconcreta (2007, Editora Cosacnaify), em interessante livraria do Leblon (uma vergonha, eu esqueci o nome... mas me redimo mais adiante).
Deslocar-me a outra cidade pelo livro e pelo poeta, que imagino é o maior vivo entre nós por aqui, foi um deleite.
Assisti a palestra, onde Ferreira Gullar descreve a experiência neoconcreta, um movimento artístico genuinamente brasileiro, fugindo dos padrões europeus. Cita com verve insuperável a deliciosa passagem da construção do poema enterrado, mas que não alongo, pois seria injusto com os editores do livro, a “roubar trechos” e verdade seja dita: o livro deve ser comprado, pois há tanto mais de arrebatador nele que surrupiar passagens por aqui, seria uma safadeza descomedida.
De fato, o livro como objeto, o próprio poeta nos mostrou, é uma obra de arte. Merece estar em qualquer estante de livros. Pela beleza, um trabalho magnífico onde a parte gráfica, lastreada suavemente no catálogo original da “experiência neoconcreta” e sua primeira exposição, deu o tom no projeto de Luciana Facchini.
Englobando os fac-similes dos catálogos originais, compondo uma obra em três livros.
A certa altura, o grande Gullar fala da poesia neoconcreta e seu sumarizado. Com abandono, subseqüente, em dúvida se poemas de uma única palavra seriam de fato palatáveis.
Discussão complexa. Mas apreciável a questão; poemas sumários, assim como execuções sumárias às vezes são incompreensíveis. Para nós leigos, os não-poetas.
Verde verde verde
verde verde verde
verde verde verde
verde verde verde erva
peço a licença de citar.
Neoconcreto; explica o mestre que o poema descreve sua juvenil observação em Alcântara, no Maranhão. A cidade abandonada tem em seu centro uma praçota e nela o verde, a tudo invadir. Verde, verde e verde. Grama rala, mas em um canto, certo arbusto, erva!
Portanto a descrição do giro visual é a poesia: o andante é verde; o sustenido a erva! Claro, diante da explicação do poeta.
Que infelizmente não podemos portar a tiracolo, a explanar. Entendo portanto um tanto o abandono da prática poeta neoconcreta.
Somos assim, queremos entender.