Belo trabalho!
Uma extraordinária coletânea de 2.500 palavras típicas utilizadas no Nordeste é o tema do livro Assim Falava Lampião de Fred Navarro. O autor foge do termo dicionário, prefere título de romance. Dando leveza à obra; dicionários já se os imagina pesados, sempre. E apesar de seqüencial, gostoso de ler, como obra literária, a seguir página após página.
Dizem quem lê dicionários ou enciclopédias na ordem alfabética é doido, entretanto penso fazê-lo com a obra do Fred é privilégio. Edição da Estação Liberdade, 1998, imagino permanece reeditado em tempos recentes.
Surrupiei do saudoso sogro, confesso sem malandragem, pois o homem recebeu dois, e um por aqui deixou. Apropriei-me, peço desculpas a quem de direito. E li.
Com a devida ou indevida licença, passo alguns termos do livro para cá, de delicioso nordestinismo, nos faz sonhar com aquela terra eu particularmente adoro. E como todo paulista tem por cá seu “counterpart” nordestino, graças aos céus, senão esta zorra parava de funcionar, justa homenagem à maior cidade nordestina do Brasil, minha querida São Paulo.
Está se vestindo: Nos bares, botecos e restaurantes populares, é usado quando o garçom quer dizer que a comida está “quase” saindo. ”Um minutinho aí, rapaziada, que a peixada está se vestindo”
Donzela-de-candeeiro: Segundo o dicionário Aurélio, em Pernambuco é “mulher que se pretende passar por virgem sem o ser”.
Dor-de-veado: Dor pontiaguda que ocorre na altura do baço depois de uma corrida muito puxada. “Pára, pára de correr que deu a maior dor-de-veado aqui em mim.” *
Grugunzar: remexer, agitar. "Deixa de tanto grugunzado aí, menino!”
Mata-bicho: aguardente, majopina, zuninga. “Beberam várias talagadas em seguida. Depois de emborcar a mata-bicho, o homenzinho mirrado ganhou a vida.”
E muitos outros, porém aí recomendo comprar o volume e divertir-se, pois muitos termos tem origens de fato curiosas ou esdrúxulas.
Apanhado da zorra, com um porrilhão de termos, moendo os bofes de quem acha que naquela região só dá literatura fubenta e deixando todos daqui com carão. E faz bem ler, quase uma mixilanga para a alma.
* Acho que na Bahia denominam também de dor-de-facão. Por lá não há veados! Dizem.
