Dona Jurema e Zequinha de Abreu
A questão é de certo fascínio para mim, pois Zequinha de Abreu é nome de rua bem conheço na minha, vá lá, tão querida São Paulo. No Pacaembu, provavelmente homenagem da cidade e da tal Cia. City (que fez o bairro) ao seu querido compositor, o José Gomes de Abreu. O qual por aqui, relativamente jovem ainda, se escafedeu em potente infarto, lá pela Rua São Bento ou próximo, em 1935. Já famoso, com talvez a composição brasileira mais difundida após Garota de Ipanema, do Antonio Carlos Jobim, o Tico-tico no fubá. Que Carmem Miranda, portuguesinha danada, levou aos EUA, ao cinema e ao ritmo das tropas gringas, em seus momentos de lazer.
Músicas inesquecíveis da Segunda Grande Guerra, com seus destaques: Lili Marlene pelo lado nazi-fascista, Tico-tico no fubá, pelos aliados exóticos (como o Brasil era considerado) e Moonlight Serenade para os anglo-saxônicos, incluindo-se aí os aliados não-exóticos, com americanos, sul-africanos e australianos.
Assim como Carmem Miranda não era brasileira, Zequinha de Abreu não era paulistano, mas sim de Santa Rita do Passa Quatro, onde nasceu em 1880.
Um músico curioso, pois com suas pesquisas em música clássica passa a primeira parte do Concerto para Piano opus 15 de Beethoven ao sucesso de Tico-tico. Alguns, ufanistas, dizem ser mera coincidência, mas naqueles tempos e antes até, repassar à sua obra parte dos movimentos de outra, era honesta homenagem e não vil plágio.
E genial, a incorporar música clássica ao choro nesta criação de 1917, sua peça mais famosa ao lado da composição Valsa Branca
Entretanto, mundo pequeno, uma vila a rigor, penso triste aqui na passagem recente da nossa agora saudosa amiga Jurema Costa Rodrigues, que, após 8 décadas, procurou recanto mais confortável a este mundano planeta por onde vagamos. Dona Jurema, que nos brindava com formidáveis almoços e bom humor quando moleques, lá pela Rua Rocha, Bela Vista. Mãe de um dos nossos grandes colegas, amigo até por debaixo d´água: o plácido Otávio. E a qual, tanto anos após o início da nossa comunhão de egressos da comunidade boa pinta e boa educação, verifico ter sido sobrinha-neta do grande compositor.
Foi-se Dona Jurema, quem sabe a conferir com o tio-avô Zequinha de Abreu e a mirabolante lusitana Carmem Miranda como andavam melhores as coisas naqueles tempos de outrora?
Saudades, de todos. Somos assim, sentimos estas coisas.
Adeus Dona Jurema; descanse em paz.
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Tunga - 12/08/2008 (07:08)
De fato, é uma letra complexa e pouco compreensível, sr. Anônimo. Mas o "Ticow-ticow no phubah" encantou bastante, pela divulgação de Mrs. Miranda, "the Brazilian bomb-shell."
Brasil, meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou
cantar-te nos meus versos
O Brasil, samba que dá
Bamboleio que faz gingá
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Brasil!
Prá
mim... prá mim...
Ô, abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do
serrado
Bota o rei congo no congado
Brasil! Brasil!
Deixa cantar de
novo o trovador
A merencória luz da lua
Toda a canção do meu amor
Quero ver a “sá dona” caminhando
Pelos salões arrastando
O seu
vestido rendado
Brasil! Brasil!
Prá mim... prá mim...
Brasil,
terra boa e gostosa
Da morena sestrosa
De olhar indiscreto
O Brasil,
verde que dá
Para o mundo se admirá
O Brasil do meu amor
Terra de
Nosso Senhor
Brasil! Brasil!
Prá mim... prá mim...
Ô, esse
coqueiro que dá côco
Ôi onde amarro a minha rêde
Nas noites claras de
luar
Brasil! Brasil!
Ô, ôi essas fontes murmurantes
Ôi onde eu mato
a minha sede
E onde a lua vem brincá
Ôi, esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro
Brasil! Brasil!
Prá mim... prá mim...
anônimo, outro - 11/08/2008 (19:08)
faltou lembrar que entre as músicas brasileiras mais tocadas por ai está a famosa aquarela... aquela em que Ari Barroso primou pelo ritmo contagiante e pela da letra impenetrável e sem sentido...
Hermógenes - 11/08/2008 (15:08)
Casado aos 19 anos com D. Durvalina Brasil de
Abreu, deixou-a viúva, a 22 de Janeiro de 1935. Cerca de 11 horas
nessa noite o compositor santarritense saí da reunião encaminhando seus
passos tranqüilamente, em direção ao bonde. Eis que ao passar precisamente em
frente ao Hotel Piratininga, viu-se acometido por súbita emoção, aquela mesma
que, de tempos em tempos, o surpreendia, deixando-o completamente
paralisado.
Tentou reagir, mas não pode. Alguns transeuntes notam aquele
homem vestido de terno escuro, levar a mão ao coração e olhos semi-arregalados,
cambalear, levemente. Há uma ligeira movimentação, naquele trecho.
"Que foi ?"
"Quem é ?"
"Um homem caiu ...............
"
"Mas ..... não é um homem,
apenas."
"É Zequinha de Abreu!!" (grita um
senhor que se aproxima de grupo).
Uma coincidência extraordinária.
Passa, no momento, o enfermeiro Mário Flori, que conhece Zequinha de Abreu
pessoalmente. Aproximou-se do acidentado, que continua pálido, amparado por dois
populares. Tenta dizer alguma coisa, mas não consegue. Mário Flori ouve-lhe
apenas.
"Aí meu Deus !"
Foi um colapso, diz o enfermeiro. Talvez
não haja mais nada a fazer. Chamam a assistência pública, que não se
faz demorar. Como previra o seu assistente, tudo estava
terminado. Zequinha morrera, repentinamente, vítima de um colapso
cardíaco. O acidentado da hora e a recondução do corpo para sua
resistência, na rua Fortunato, ocuparam algumas horas. Os jornais
fecharam as suas edições nesse intervalo.
A cidade amanheceu sem saber do
desaparecimento de Zequinha.
Enquanto se velava o cadáver, a notícia
espalhou-se, mas quando todos tomaram o conhecimento do episódio o famoso
compositor da gente simples, criador de tantas belezas da música, popular,
descia ao túmulo para repousar de sua luta, uma luta desigual, mas vitoriosa e
consagrada, pelo que encerrou de simples e profundamente humano.