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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Dona Suzete, seguiu à grande viagem

De tempos em tempos a via, pequena, resiliente, forte como um bambu, esbelta porém. Ficava admirado com sua força, seu discurso potente. Brincava, perguntava eu se preferia o feijão com arroz aos sushis.

”Cada coisa em seu canto e em seu momento!”, dizia. Com razão, e curvava-me à sabedoria da senhora. Era japonesa nativa, a querida Iroko Furukawa, mas para todos: Dona Suzete, a simplificar. Mais sabedoria no ato.

Com as mãos e paciência trazia os pequenos ao mundo; centenas, por anos. À luz.

Positivista, animada. Apreciava viagens e nesta última, em companhia das adoradas filhas, afastou-se do cotidiano. Com alguma relutância. Ainda, como o flexível dobrar do colmo-bambu, a fazer o retorno, a seu querido país de adoção; o Brasil.

E por aqui despedir-se, para a última grande viagem, ao infinito, à luz, onde dizem haver paz.

Para Dona Suzete haverá.

E para lembrar que esta breve noite teve fim, um pequeno poema:


Kasasagi no
Wataseru hashi ni
Oku shimo no
Shiroki o mireba
Yo zo fuke ni keru
Se me permito ver aquela ponte
Tensionada pelos vôos dos luzidios corvos
Através do arco celeste
Branca como pesada camada geada
Então o escuro em pouco ter-se-á esvanecido



Do "Hyakunin Isshu", compilação de 100 poemas do século VII ao XIII, pelo poeta Fujiwara no Sadaie (conhecido como Teika)

Dona Suzete, será sempre lembrada.

A poesia de Otomo no Yakamochi na forma original. Nossa modesta homenagem a Dona Suzete.

Comentários (clique para comentar)

Nagashi Furukawa - 02/09/2008 (09:09)

Eram 8 os Furukawa que vieram para cá em 1926. Dois casais cheios de esperança e os filhos ainda muito jovens: Tadanao e Tsuya, com Chusuke e Yaeko; Eisuke e Nobu, com Hitoshi e Hiroko (Suzete). O navio era o "La Plata Maru" e o destino, Fazenda Santa Helena. A última se foi, deixando muita saudade e três filhas maravilhosas. Fica o registro da homenagem dos descendentes do primeiro casal. NAGASHI FURUKAWA

Nagashi Furukawa - 02/09/2008 (09:09)

- 28/08/2008 (15:08)

Não tinha idade a mamãe, a menininha no navio que veio do Japão, a matriarca de sabedoria milenar, a amiga dos amigos das filhas, das netas. E assim se foi. Ou ficou. Obrigada, Denise, obrigada, Thomas, pelas portas e corações abertos. Regina

denise mendonça teixeira - 08/08/2008 (17:08)

Escutei do curador Paulo Herkenhoff uma frase singular: - "Não existe Brasil sem Japão". Paulo Leminski mestre de Haikai: "esta vida é uma viagem pena eu estar só de passagem" ou Alice Ruiz: "gesto antigo gostar de você parecer comigo" Dona Suzete, querida, é nosso Japão no Brasil. Saudades...

António Gomes André - 08/08/2008 (08:08)

Um acto biologicamente aceite e com passagens, segundo me dá a entender, de altruismo notório. Para situações desta natureza, um amigo comum, comentou que:

"Hoje, a simples definição completa-se. E completa o que de bom e fácil pode ser entendido e, famigeradamente aceite. Não se renega o acto de... Mas “aceita-se” o facto de, ser aceite e entendido, por quem a alternativa não tem existência."

Contra factos não há argumentos...