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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Ódio

Por essas infelicidades do destino, jamais odiei alguém. Posso não simpatizar com uma ou outra criatura, de imediato, mas convivo, se necessário. Dizem ser falsidade minha, comodismo talvez. Pois pelo que entendo, o ato de odiar requer algum preparo e esforço e talvez sua difusão seja maior entre os melhor dados a esta comoção d´alma. Penso no Oriente Médio, onde odiar é algo como esporte nacional. Os pimpolhinhos e suas metralhadoras de plástico com faixas verde e branco na testa atestam!

Certa feita imaginei estar de fato odiando: sujeito evidentemente contrariante, insubordinado, alegou "doença ocupacional", após demitido. E por mais de 14 anos atazanou-me com processos, alegando perdas de audição graves pela falta de fornecimento de protetores auditivos em sua função (era mentira grossa, foi preocupação minha exigir o uso constante, antes de ser obrigatório) e toda aquela lista esses milhares de advogados têm preparada, para tornar-nos aqui os disparados campeões mundiais em processos trabalhistas, 2.900.000 em curso. (Argentina: 70.000, Japão: 1.300)

Ganhou o reclamoso o processo, entretanto me parece após algum tempo correndo a causa, soube depois, desinteressou-se pelo assunto e, salvo engano, ficou o tutu para os advogados.

E percebi não o odiava, na verdade era ele declarado "insurgente" contra o establishment, temporária vítima dos empresários jurídicos do seu sindicato. Estes após terceirização, na procura de produtividade e resultados com rápidos acordos, aliciam os demitidos para milhares de ações contra as empresas. The more, the better. Admirável; abandonou o processo e jamais topou qualquer proposta conciliatória.

Um dos advogados dizia ser "pessoa difícil", desejoso pelo rápido acordo a esperar os tantos anos tudo demorou.

Me consta o reclamoso reclamante passou para o lado do inimigo, sendo próspero proprietário de média serralheiria, a fornecer grades, janelas e portas em aço e alumínio, de galpão próprio e uma dezena de funcionários. Já deve estar enfrentando processo trabalhista, contra si...

Porém o assunto é ódio.

Abraço uma querida amiga, a elogiar arroz de polvo que fez e digo alguma abobrinha risonha. Não lembro bem qual. Discursa ela, alegre, "eu amo este sujeito" aos circunstantes. Ato contínuo, vem o complemento: "mas já odiei muito!", com o dedinho de mestra a alertar:

"Coisas do passado, o futuro só ele dirá.", encerrou.

Muitas risadas, todavia surpreendido e bastante envergonhado, discretamente carreguei o assunto para os podres escaninhos de minha alma, a procurar recordar quais malefícios causei para gerar aqueles ódios. Não lembrei o que pudesse tal ter detonado, mas sei o ódio não requer muito. Há momentos, me parece, bastar um olhar...

São assim, se odeiam às vezes; alguns sempre...


Puro e cristalino ódio, chega a ser belo, alguns arriscam comentar...

Comentários (clique para comentar)

Hermógenes - 05/08/2008 (14:08)

Ame-a (o) ou deixe-a (o)... nos parece os humanos vivem em polaridades. Nada que um bom copo de cachaça e um almoço não resolvam. O problema é quem se digna servir...

Otávio - 05/08/2008 (08:08)

Amor e ódio. A fronteira é tênue. E a intensidade é proporcional à distância entre o seu mundo (sonhado, imaginado, desejado, construído, etc.) e o mundo real. Desperta-o a contrariedade.

Hermó - 04/08/2008 (08:08)

Tenha certeza, quem não odeia, sabe amar. Não são mutuamente compromissados os atos d´alma. Amor e ódio só em novela...

anônimo, outro - 03/08/2008 (01:08)

inclusive eu

anônimo, outro - 03/08/2008 (01:08)

quem não sabe odiar não sabe amar! mas todos mentem - católicos, luteranos, calvinistas ou agnósticos - não se permitem odiar!

Hermó - 01/08/2008 (14:08)

Abençoados nós os fracos de espírito, pois não sabemos odiar. Amém.

Daniela - 01/08/2008 (11:08)

é...basta às vezes um olhar, ou um comentário maldoso na frente de um público sarcástico...você tem soirte que eu também não sei odiar, pois se soubesse, acho que teria motivos... mas isso é assunto prá outra ocasião, ou como fez a sua outra amiga, melhor deixar prá lá, passado é passado.