Notícias assustadoras
Me comunicam o marinheiro a cuidar do meu barquinho, mantido lá por Parati, sujeito diziam bom e afável, de nome Marcelo, ter sido assassinado aos 34 anos. Quatro tiros à queima-roupa, de motoqueiros, saindo de uma festa. Diz a mãe, diz o sobrinho, diz a sogra ter sido resultado de uma briga.
Pimba, pimba, pimba e pimba; e fim dos serviços.
Pensei: limpava muito bem, até voluntariamente passei-lhe aumento recentemente. O barquinho reluzia. O que pedia, a preparar o barco e agradáveis passeios, ele fazia. Recomendação do ex-dono; veio junto com a nau, no dia em que decidi a vida não ser apenas trabalho, trabalho e mais trabalho.
Mas quem me trouxe a notícia, curiosamente resolveu investigar melhor o que ocorreu e me passa a notícia, na verdade, quem de fato fazia o serviço, era o sobrinho do sujeito. O dito “marinheiro” morto era um agente, o “gato”.
E portanto, assim a central de notícias oficiosas, seu negócio principal ser um pequeno açougue; e “invadida” a área de um concorrente, recentemente, esse outro açougueiro resolveu a parada na bala; contratada.
Eu desconfiava de algo errado, pois nas últimas vezes o tal marinheiro já andava relapso, esquecendo aparentemente de pedir ao sobrinho executor o que daqui solicitávamos.
Pensei ser cachaça a fazer esquecer, pelo aspecto inchado do sujeito, nesta única vez que com ele conversei pessoalmente.
A boataria, porém, informou seria mais sério: o sujeito consumiria algo bem ilícito, também comprava e distribuía, tendo esquecido ou recusado liquidar alguns débitos e, por isto, ser liquidado. A lei consuetudinária implacável entre bandidos?
Não pagou: au revoir.
Só espero que não tenha usado meu barquinho como depósito dos troços embagulhantes...
Porém, como tudo é fofoca, pode ter sido briga mesmo. Mata-se por muito pouco; é crime perfeito, apesar dos corretinhos de plantão dizerem isto não existir. Na grande Recife 0,2% dos homicídios são esclarecidos, apenas por denúncia. Os demais nem são investigados. Ou seja: dos 50 mortos por fim-de-semana, 2.600 por ano aproximadamente, 5 casos são esclarecidos.
Dizem que é tão raro alguém ser pego, que há turismo; gringos a darem seus tirinhos certeiros, por somas peludas... Maluquice? Talvez.
De qualquer forma: caçar motoristas depois do chopinho, desarmados, cobrando a multa de 955 paus ( metade para esquecer o assunto...) ou tutelar turistas é mais o espírito da coisa. E não culpo, quem arriscaria procurar bandidos bem armados por 1.400 reais ao mes? Nem a polícia federal com seus muito melhores salários faz. Vão atrás dos elegantes, mas desarmados.
Em Parati não deve ser muito diferente.
São assim.
E quando esclarecidos, pouco ocorre. Leio o caso da Maria de Fátima, do Ceará, que 19 anos após tomar dois tiros do marido a deixar paraplégica, recebe indenização de 60.000 reais, pela nova lei assim chamada "Maria de Fátima". Menos mal. O sujeito foi preso, condenado a 13 anos de prisão, solto após dois anos, 1/6 da pena... Azarou a vida da ex-esposa para sempre e pagou com dois aninhos; se não é perfeito é o crime quase perfeito...