D. queria velejar no Mamanguá
E lá fomos. Aprumar o barco, ajustar as tralhas para sair ao mar. O marinheiro, coitado, vítima de algum mal decorrente da excessiva parati (Vestiu uma camisa listada e saiu por aí, em vez de tomar chá com torradas, ele bebeu parati...), nada havia feito. Tiram-se toldos, enche-se o tanque d´água, verificam-se detalhes. Arrisca-se a saída sem o bote auxiliar. Pronto, partida no motor, saída lenta para a Ilha da Cotia.
Hora e meia depois, tempo bom, como sempre sem ventos, chegamos. Uma novidade: a região imunda, o mar escuro, quase sem barcos ancorados, espumas fétidas pela superfície. Algo aconteceu, sabe-se lá que pequeno desastre ecológico a maltratar a região. A coisa vai mal.
Pergunta D. como se veleja: sem vento, meu doce, é complicado. Quem sabe lá no Mamanguá, penso eu?
Seguimos para lá, é próximo. Uma baía, quase fiorde, afunila o ar para uma suave brisa.
Fecham-se gaiútas, preparam-se catracas, solta-se o cabo enrolador da genoa, deita-se ao vento e com 9 nós de lufadas lânguidas partimos, o barco pesado vai a 1,5 nós.
Confusão nas manobras, minha querida companheira insegura no leme gira em excesso, perde-se a brisa. Mais três bordos e apelo para o piloto automático, esta dádiva da tecnologia.
Saímos do fiorde e vejam só: mais uma vez fim do vento.
Motoramos, recolhendo velas. Seguimos à Ilha do Algodão, Ponta da Cajaíba, Ilha Deserta, à dos Meros, dos Mantimentos e após 5 horas aportamos.
Passeio completo, alegria.
Para a querida, o melhor. Ao invés do desasossego relativo do barco, a Pousada Porto Imperial; um brinco. Algum modesto actus shopping, pois haviamos esquecido certas roupas, e depois romântico jantar no fabuloso, extraordinário, inigualável Banana-da-Terra, seguramente o melhor restaurante da simpática cidade de Parati. Meu predileto por lá, o Restaurante da Matriz, surpresa, não existe mais; ou em reformas, quiçá talvez sucumbido à profusão de estabelecimentos; deve ser a cidade com o maior número de restaurantes por quarteirão.
Filé de namorado em crosta de alho sobre leito de banana-da-terra com risoto de pupunha, após entradinha de anéis de lula ao gengibre, chôio e sal grosso. O gelado branco argentino a esquentar a alma. Fechando com sonhos de aipim e queijo cremoso, mornos, com sorvete de goiaba. Divino!
Treino para talvez irmos à próxima FLIP, o festival de literatura da cidade fluminense, quem sabe ouvir e encontrar os magos da escrita, daqui e de fora?
A velejada foi modesta, porém nosso sempre fiel e dócil Charada nos ensina sempre mais que sabemos e mostra-se grande veleiro. Vida mansa longe do fuzuê paulistano, merecido descanso à incansável D.. Escapadinha envergonhada, entretanto temos direitos...
Somos assim, nós aprendizes da vida e da vela.