Juan de Yepes
Festas de junho, juninas. Entre elas o tal São João, aclamado principalmente por aquele Nordeste. Um amigo de lá, escritor, me confessava que entre o Natal e São João preferia o segundo. Menos triste, mais autêntico, sem falsas neves, árvores japonesas ou nobre malteses em roupas vermelhas. Intensamente popular.
Perguntava o que se comemorava, entretanto a resposta era vaga, algo como: o São João, ora! Natural, claro. "Não perco nunca meu São João, sim sinhô!". Quase como farinha na mesa, à mesa nordestina.
Na verdade traduz-se numa mescla de festa pagã e cristã, coisas do verão europeu, encerrado o plantio nos campos, com a fogueira e os sons; e a ovação ao São João da Cruz, Juan de Yepes, frei carmelita descalço, nascido e morto na Espanha. Aliada ao solstício de verão (23/24 junho) o dia mais longo e associadas odes à São João Batista, filho de uma prima da Maria, mãe de Jesus Cristo. Que ritualizou o ato do batismo, tradicional na cristandade.
Grande poeta o da Cruz e pregador o Batista, sempre em votos de pobreza, pela qual passaram na infância. O mais recente (seculo XVI) neto de mercadores de seda, gente rica. Porém o pai engraçou-se com moça simples, a família não gostou e o sujeito, resoluto, preferiu a vida modesta ou miserável ao lado de seu amor, com quais teve filhos, entre eles Juanito, depois santo.
Sendo espanhol a devoção ao homem é comum pelas bandas ibéricas e a fusão das homenagens a ambos; e chegou por cá, mesclada a alguns ritos indígenas e africanos, fazendo grande festão luso-brasileiro.
Onde se abraça a simplicidade, a autenticidade dos hábitos comuns dos mais humildes, os moradores do campo. Imita-se sua dança, "a quadrilha", os hábitos alimentares, a bebida, a música e país afora, nesta época, por alguns instantes nos despimos da dureza cotidiana e literalmente caimos na vida caipira, campestre, modesta.
Como pregava São João da Cruz.
Por cá na cidade grande já surge certa sofisticação, é inevitável, no trato com a questão junina (ou joanina, será?). O churrasco, a essência da festa campestre, troca-se por um delicioso ensopado de frango com tomates e polenta macia; e queijo ralado. Antecedido por sopa de mandioquinha, cremosa. Os trajes caipiras cedem às inovações da moda, combinações modernas com toques de rusticidade rural. Mantêm-se a música, forró autêntico. A graça da quadrilha também, diversão garantida. Porém mais uísque e menos pinga, muito vinho tinto e menos cerveja, as bandejas com os tradicionais pés-de-moleque, maria-moles, doces de abóbora e jenipapo, na terrorização dos colesteróis, trigliceres e outros exames acabam menos desejadas. E esquece-se.
E todos comemoram os santos Joões, que no fundo não sabemos direito o que fizeram.
E melhor assim. E somos assim.