Somos o quintal da América?
Pelo visto, se permanecermos a nos portar politicamente como um bando de desnorteados a seguir líderes de coerência duvidosa, seremos, melhor, continuaremos o quintal dos gringos. Não escrevo tanto das nossas democracias já de alguma estabilidade, como Brasil, Chile e Argentina, todas nações que sofreram em maior ou menor grau o abuso da militarização das relações internas, com violência política extrema, perseguições e mortes para manter-se o que nossos hoje pouco orgulhosos militares denominariam a "ordem".
Sob a égide de quase desinteressados norte-americanos e canadenses, a tratar-nos, até hoje, como uma espécie de playground, onde nada é muito importante e nem uma política específica para a região há. Somos apenas quintal, onde moram os serviçais e às vezes se esgueiram os patrões, atrás de comidas mais saborosas, da grande terra e algum interesse pelas jovens, quiçá crianças, esta terrível perversão que se alastra com permissividade na precoce prostituição.
Venezuela, uma curiosamente mui antiga democracia latino-americana, sem histórias de golpismos (excetuado a tentativa de Chávez contra Andrés Peréz em 1992) agora se entrega a uma verdadeira forma ditatorial de comportamento em suas lideranças, a oprimir a oposição e deixar de forma "bolivariana" a população participando ingenuamente de algo similar ao nosso "milagre econômico", aqui em terra brasilis, nas épocas de chumbo. Lastreado em petrodólares, esta a vantagem do boina vermelha.
Chávez é militar, não esqueçamos. O pensamento é obtuso, seja dele ou de qualquer outro, pela forma de educação e formação. Obedecem ordens, porém querem ser obedecidos. Se há críticas, suprimem-nas. O povo como tropa bem comportada. Aos americanos, seus clientes nr. 1, assim como grandes fornecedores de quinquilharias, envia graciosas ofensas, que pasmos, os demais países latino e central-americanos vêem com estupefação como absolutamente sem importância, sabedores que do quintal nada os atinge, aos cowboys. Merecem no máximo, às vezes, pouco enfático comentário de algum porta voz de assuntos sem reelevância do departamento de estado.
Divertido até, Chávez lembra mais um apresentador de programas de auditório com poderes para distribuir as benesses de seus muitos doláres do ouro negro para programas assistencialistas, incluindo governos de outros países, seus vizinhos. Detona bravatas, veste uniformes, canta, faz amizade com os inimigos dos americanos e, com a nova lei, semi-promulgada dando-lhe poderes de quase ditador, mostra-se algo como um curioso Perón criollo.
E sem o charme do revolucionário guerilheiro Fidel, apega-se ao mito, como se parte deste fosse nele espelhar-se.
Mas com seus méritos, admita-se, por pelo menos em termos de América do Sul, mostrar-se liderança regional que nunca dantes houve, com ímpetos fortes junto aos milhões de miseráveis que ainda compõem a maior parte de nós. É uma pequena luz para bolivianos, equatorianos, peruanos, colombianos, brasileiros e todos que sonham ter algum dia um pouco mais de conforto social, educação e saúde. Os demais, ao contrário de Chávez, mostram-se ainda serviçais do quintal, alguns agora porém com melhores resultados, quase a olhar de frente o patrão, mas ainda serviçais.
A união entre os serviçais cria novos horizontes e Chávez, brigão, parece ser o único a de fato seguir o sonho de Bolivar, mesmo que como divertido bufão. No instante que surgir uma real liderança séria por esta América Latina, a unificar o discurso e tirar-nos do quintal, poder-se-á aposentar o coronel paraquedista. Por enquanto ele é o único que se habilita...
Ele é assim, nós somos assim.