Natel
De abril para cá tenho caminhado com certa intensidade pelo bairro por onde já moro há 43 anos. São 3 ou 4 vezes por semana em frente à casa do falecido ex-governador de São Paulo, Laudo Natel.
Apesar de alinhado com a ditadura era homem afável.
Ao passar em época distante com minha nenê, hoje quarentona, por ali, ele do alto da varanda a lembrar versão modesta e discreta de político de renome, mandava acenos.
Quando nasceu meu primeiro neto em 2016, ainda vivo e eu novamente passar por lá com o pequeno, fez o mesmo cumprimento.
Às vezes o encontrava em pequeno supermercado de “famosos” (mas um pouco, digamos, já menos presentes). Por onde circulavam Gretchen, a atriz, e o grande fotógrafo T. Farkas. Era o local também cenário para comerciais, a ver atuando com algum produto na mão a filha de dupla sertaneja, cantora famosa, Sandy.
Natel sempre a todos cumprimentava,inclusive a mim, jamais entendi a razão. Mas percebia-se a maioria não sabia onde encaixar o rosto conhecido. E o tropeçar em sua presença me acompanhava desde a adolescência, a meus pais e eu frequentarmos modesta pizzaria na Zona Norte, também preferida do governador.
Curiosamente tomava assento com sua senhora, cumprimentava cordialmente os garçons . Os demais clientes do local não o incomodavam, ninguém ia à sua mesa a saudar ou solicitar algo.
Talvez dos políticos de certa importância mais modestos por aqui houve.
Em contraste a ele observo o presidente americano pelos meios de comunicação. Algo intenso e fomentado pelo próprio, a ponto por esses dias tomar para si a prerrogativa de só ele informar ao público o assassinato de fanático influenciador e seguidor seu, assim como há pouco a prisão de suspeito matador.
Procura perfilar-se em contraste exuberante aos demais presidentes daquele país, como centro de todos os acontecimentos. A interferir até em questões internas de outros países, questões a rigor considerar-se-iam pouco importantes para os EUA, como o julgamento de um ex-presidente golpista por aqui.
Imperial. Um Laudo Natel às avessas.
O mundo é de contrastes. E de extremos, coisas da humanidade. Somos assim, bem estranhos.