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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Enel, Nunes e Tarcísio, meus parabéns pela eficiência.

Minha mãe da distante Baixa Saxônia, "lavada com todas as águas", assim dizem por lá, nesses momentos como agora, onde passam 250 mil pessoas na maior cidade do país sem energia há  mais de 20 horas, detonava:

"Krieg war schlimmer." (A guerra era algo pior!). 

Os pais tinham certo termo para isso, a resolver. Penso seria algo como "dar um jeito" (não é nossa exclusividade, apesar do discurso):

"Organisieren".

O ato de organizar algo para sobreviver era o lema maior do final do conflito europeu e após.

Contava ela água ser apenas por balde de fontes indicadas. Carvão para calefação a furtar dos trens de carga abasteciam as consertadas e religadas termoelétricas. Carne, muitas vezes de cavalos caídos e exaustos de migrantes da Prússia fugindo dos russos.

Café, açúcar e manteiga só em conexões com ingleses e americanos. Esses trocavam por namoro de moças ou armas, principalmente as Walther PPK, altamente cobiçadas pistolas de oficiais alemães. Já a apoteose era a marcha aos campos e furtar batatas, sob risco de surras dos chacareiros. E maçãs (meu pai foi preso por isso em setembro de 1945). Mas o soldado inglês o fez limitou a prisão a 2 horas, não havia espaço para tantos "ladrões".

Sempre eu estranhava a placidez e tranquilidade dos meus pais, quando em momentos de "comoção", assim aqui agora sem energia. Não se incomodavam com árvores caídas, alagamentos e falta de luz ou água. E era bem mais intenso no passado distante.

Até cantarolava a mãe certa melodia crítica aos serviços públicos ruins de sempre no país: "Cidade bonita, cidade que me seduz. De dia falta água e de noite falta luz", com seu forte sotaque alemão.

Passando por furto com toda a casa revirada na volta de passeio a Santos, não os impressionou. O essencial estava bem organizado e escondido: na chaminé da lareira, havia pequeno degrau.

Ou assalto à pequena empresa mantinham em 1980. Certa sócia, também alemã, havia naquele dia comprado US$ 8 mil de cambista para enviar à Europa, a salvar algo da ultra-inflação reinava sob os militares já desinteressados. Chutou a bolsa quando os bandidos entraram, para um cantinho discreto. Eles só queriam a folha dos peões, meu pai insistia em pagar os trabalhadores com efetivo, tutu papel mesmo. Para "sentir"!

Enfim: "Organisieren". Sempre era e continuou o lema.

Talvez meu gerador chines comprado hoje para ao menos salvar aquilo há na geladeira e banho quente passe por isso, a não depender tanto dos, novamente, péssimos serviços públicos paulistanos.

Organizar para algum mínimo conforto.

A ironia, em conclusão, é o estado mais "progressista", com governo eleito pela chamada direita "crassemédia", dotada de suas convicções morais e conservadoras, a criticar sempre seus oponentes, não consegue nem ao menos controlar uma multinacional italiana altamente predadora, cujo único objetivo é  tirar o máximo com o mínimo esforço...

S. Singer/ Folhapress.

Comentários (clique para comentar)

Regina Junqueira - 13/03/2025 (17:03)

Nessas horas os eleitores dos ditos acima vão se escorar em ocorrências climáticas, eles que negam a degradação ambiental causada pelo “pogresso”. Thomas, as histórias de sua família são preciosas e aguardam por um grande livro.