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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Bruckner

Como todo bom carioca raramente vai ao Pão de Açúcar, soteropolitano evita usar o elevador Lacerda, paulistano comum pouco vai à Sala São Paulo, antiga Estação Sorocabana, hoje marco da boa música erudita e um símbolo para a cidade. Entre esses quem lhes escreve.

A região não agrada, a tal Cracolândia e seus frequentadores, por mais se esforce a prefeitura em resolver a questão, não encantam como vizinhos do local.

O contraste nos envergonha um tanto, entre a estirpe apreciadora dos acordes clássicos e os miseráveis matando-se por uma pedra de cocaína com sei-lá-o-quê.

Duro, lembra filmes como Titanic, todos afundando, porém separados por classes.

Mas fui; e gostei. A acústica é exuberante, diria quase perfeita, em todos os pontos onde pode-se acomodar o público.

Diverti-mo-nos com Mozart e menos com Anton Bruckner. O primeiro não é surpresa saber maravilhar, 200 anos após, a todos. Até ao animado maestro convidado pela Orquestra Sinfônica do Estado, Mario Venzago, suíço, me parece diretor de música em Indianápolis, nos EUA. Literalmente a bailar e pular regendo a tropa sinfônica.

Com Michel Dalberto, impressionando no dedilhar de seu piano, sem partituras, o concerto para piano nr. 25 do mestre austríaco.

Excelente.

Mas Anton Bruckner e sua sinfonia nr. 7 já requerem alguma paciência. Não encanta a dita, é wagneriana, pesada, enfadonha, barulhenta. Os metais suprimem tudo, com toques militares. Porém com seus apreciadores.

Não é meu caso, tenho lá minhas dúvidas sobre esta alma lírica austríaca. Para ouvir sua sinfonia nr. 4, basta clicar aqui e conferir a forma musical do compositor, pouco variada.

Mas em devaneios, olhando os acabamentos para a acústica que foram instalados no saguão da velha estação, pensei nas tantas pessoas que por ali passaram, vindas do interior, a procurar a cidade para uma nova vida. Casais e seus sonhos conjuntos, trabalhadores, desiludidos e esperançosos.

Enfim, hoje é casa de música; o trem, pelas Américas, perdeu sua vez. Ou é de subúrbio ou de ínfimo turismo.

E as estações viram caixas acústicas.

Anton Bruckner, a consagração como músico veio após os 60 anos. Mas é em sua arte como nas refeições doces o chantilly em excesso.

Estação Sorocabana, hoje a Sala São Paulo. Um contraste de públicos, entre os amantes da música e no redor os consumidores de crack, curioso.

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