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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

O estranho mundo dos menonitas; em Cannes

Um filme recomendável, perturbador, é Luz Silenciosa (Stellet Licht, 2007) do diretor mexicano Carlos Reygadas. No Cinesesc em São Paulo, incomparável a tudo normalmente é possível associar a cinema, e suas formas.

Inovador, portanto indiscutível a polêmica e premiações geradas. Recomendaria assistir.

O tema seria banal: a infidelidade de homem em meia-idade, pai de muitos filhos, trabalhador. Porém o diretor na sua genialidade leva o desenrolar da história ao centro de ultra-religiosa comunidade protestante, menonita, no estado de Chihuaua, norte do México, onde se fixam em 1929 e se tornam importantes agricultores.

Lembram um pouco os amish, porém me parecem tantinho menos radicais, já se permitindo o uso de automóveis, tratores e por aí vai.

Falam curioso alemão antigo, denominado “alemão achatado” ou Plattdütsch; soa como amálgama de holandês, inglês e alemão.

Nos momentos de alguma agonia, quando o linguajar deveria ser rápido, lembro minha avó e meu pai recorrerem a esta forma de falar, que não entendia, não mais tão comum no interior da Alemanha. Era algo só deles.

O filme é respeitoso com este agrupamento, destoando tanto de seu entorno mexicano. Não falam a língua oficial do país, suas escolas são distintas, têm seu próprio hospital, casam apenas entre si.

E, imagino liberdade poética do autor do escripte, a traição também é em seu próprio meio, entre menonitas. Com curiosa finalização, todavia não antecipável: tiraria a graça da película.

Sem música de fundo, com atores penso amadores, entretanto com fotografia e direção maestral é jóia da criação cinematográfica, a levar aos escaninhos da diversidade às vezes nem conhecemos.

São 180.000 menonitas por este planeta, dissidência protestante-católica, grupo liderado por um certo Menno Simmons, padre holandês, a propagar o culto anabatista (não se batizam). Perseguidos seguiram à Rússia no século XVII; hoje estão em 25 países. Incluindo o Brasil, iniciando na região de Ibirama, Santa Catarina.

Trabalham com a terra, em família. Não ouvem rádios ou assistem tevês.

Isolamento em dias de hoje, apesar de criticado, a perguntar se de fato tão alienado...

Mas são assim.

Premio do Juri de Cannes em 2008, de fato uma forma nova de fazer cinema. Sem a pecha do abominável "filme-de-arte", apesar de lento não é sonolento.

O diretor Reygadas dirigindo Cornelio Wall Fehr e Mirian Toews em Luz Silenciosa.

Comentários (clique para comentar)

Hermó - 27/05/2008 (13:05)

Cinesesc, Rua Augusta 2.075 (acho que era o antigo Magestic). Em tempo: é o único cinema com um boteco interno, com mesas, onde pode assistir o filme, conversar e beber. Sem incomodar os outros. Divirta-se. 19:00 acho,é a sessão. clique aqui

Cláudio - 27/05/2008 (13:05)

Gostei. E gostaria de ver o filme, já que sou descendente de menonitas. E, por mais que eu procure, não acho o endereço do Cinesesc para ver a programação e endereço. Tens aí?

CHM

julia - 27/05/2008 (12:05)

o filme é realmente inusitado, nunca vi nada igual. qual a link do youtube, com a matéria sobre os menonitas? vale divulgar. parabéns pela resenha!