Senhor Sulu vai casar ...
Menino era um dos maiores entusiastas da série Jornada nas Estrelas, pois ao contrário de bobagens como Perdidos no Espaço, as questões levantadas em Star Trek notava-se eram escritas por quem ia além dos clichés de bonzinho-malvado.
Um particular episódio a me deixar pensativo, era a disputa mortal entre dois sujeitos alienígenas, passageiros da nave, absolutamente iguais, pretos de um lado e brancos do outro, meio a meio, interpretados por sujeito também fazia o papel de Charada, no seriado Batman e outro menos conhecido ator.
Aos tripulantes da USS Enterprise (aqui sim, um cliché), ao capitão Kirk e ao público que assistia, era incompreensível a disputa entre os iguais.
Caçavam-se, batiam-se e por fim o capitão a interferir e separá-los, perguntava qual o motivo de tanta briga e ódio, se eram iguais.
Um deles, com o olhar revirado, dizia:
-"Não percebe como somos diferentes, ele é preto do lado direito e eu do lado esquerdo. Somos desiguais, por isto a incompatibilidade e o ódio...".
Algo assim.
Lembro da surpresa pelo fato passado desapercebido, pois são coisas que de fato nem sempre notamos entretanto nos odiarmos por motivos absolutamente inúteis como cor, credo, etc.
Penso na homofobia, onde discriminamos e alguns chegam às raias da violência contra os gays. Somos grosseiros, indelicados e não os queremos por perto. Nos incomodam.
Me contava com certa alegria um sujeito da minúscula Ipiaú, na um pouquinho atrasada zona da mata baiana, que o esporte com os veados era, literalmente, caçá-los, dar-lhes uma surra, jogá-los em picapes e levar para outra cidade, como "presente".
Que tal?
Dizia acreditavam na cura, por este método. Curiosamente, o mesmo camarada fitou-me com seriedade, dizendo veado ser apenas o passivo no enlace romântico, no decorrer da conversa. Quando ousei dizer ambos serem homoeróticos, se a rotulação de algo serve, fitou-me de forma perdida a pensar naquilo tinha feito no passado. Chamar-se-ia de deslize ronaldiano...
Nunca entendi por completo a sempre presente discriminação. De brancos contra pretos, contra orientais, contra judeus, contra anões, ciganos, homossexuais, bissexuais, amantes de cachorros, estrangeiros, ciclistas católicos e por aí vai. Mas existe, basta ir a clube classe média paulistana e verificar quantos japoneses, pretos e demais são sócios, ou quantos presidentes negros ou indios houve por aqui...
Acho que ainda conviveremos muitos anos com isto, talvez nos seja estranhamente inato e não toleramos por alguma razão a diferença do outro, e nossa para ele, em abominável contra-partida.
Curiosamente leio aqui que o Sr. Sulu, o qual fazia papel do diligente navegador espacial, com seus sérios traços orientais, está muito feliz pois finalmente na California liberaram o casamento entre iguais. E George Takei, seu verdadeiro nome, aliviado em legalizar sua união de tantos anos com seu agente e grande amor.
Aos 71 anos uma longa espera, mas pelo visto valeu a pena, ir onde "nenhum homem jamais se aventurou..."