Divagações.
Com as devidas desculpas por reocupar o espaço, mas o "causo" foi saboroso e me disparou o desejo de colocar em papel...
A cada 12 - 15 meses ouso ir ao desagradável exame de próstata. Recomendações da esposa, dos filhos e da alma.
Sempre temeroso, pelo ato em si, não preciso descrever; além do receio receber algum comentário do médico no estilo "precisamos ver melhor isto"...
Porém desta vez, em meio à pandemia cansativa e inquietante, o normalmente tranquilo médico de poucas palavras, mostrou-se um tanto quanto eloquente.
A ponto em certo momento entrar no modo "divagação impensada".
Explico: o sujeito inicia, como em sessão de psicanálise, comentar coisas suas, íntimas. Sem preocupar-se com quem está ouvindo.
E a perguntar como anda a minha vida, se "tudo bem com o casal" e eu iniciar responder, o homem de branco cortou e detonou, com o olhar perdido:
- "Elas se enchem da gente, conheço isto bem. E não tem jeito quando ocorre."
O interessante: apenas falei sobre cirurgia a esposa havia feito, sem qualquer comentário sobre nossa vida conjunta.
O micro-desabafo do doutor, aliado à seguinte divagação sobre perda de safra em seu passatempo, cultura complexa mediterrânea procura estabelecer por aqui em terras sub-tropicais, com seus percalços, fez-me ingenuamente concluir a razão ela ter se enchido...
Encerrado o encontro com a próstata inalterada, voltei para casa pensativo.
Somos todos bem iguais. E pode ser, elas se enchem de nós homens mais velhos, certamente.
Somos assim.