Aprender e Ensinar
Por Erica Silva Teixeira, de Salvador
Gosto muito de dicionários. Com eles, passo a enxergar as palavras com o cuidado que falta à minha geração: o de perfeita adequação dos termos às situações impostas.
Sempre que procuro um verbete, percebo como existem tantos outros igualmente adequados ao momento, mas não necessariamente melhores do que aquele que eu escolhi. Ou o contrário. E, nessa infinita polissemia, vejo a importância do meu verbo preferido: “aprender”. Ou do seu substantivo: “aprendizado”.
Esse aprendizado, assim como infinitos outros, devo aos meus professores – que foram muitos. Nem sempre em sala de aula ou necessariamente com pessoas capacitadas para isso, mas certamente possuidoras de algum conhecimento que me faltava.
E, para conhecimento, não há qualitativos.
Hoje, 15 de outubro, acredito existir um dever moral humano em reverenciar quem verdadeiramente merece aplausos: os que se dispõem ao sacerdócio do ensino. Eles, que precisam intermediar o complexo e infinito processo de apreensão-compreensão-reprodução-e-desconstrução, são os maiores credores de nossas colheitas. Plantam, regam e muitas vezes não veem os frutos, mas ainda sim persistem no longo e tortuoso processo de compartilhar conhecimento.
Se escrevo, falo, penso, reflito, compreendo e apreendo, é porque, em algum momento de minha existência, essas coisas me foram ensinadas. Esse processo é, genuinamente, um ato de troca e de amor, especialmente porque, como sempre digo, “tanto mais se aprende, quanto mais se ensina”. Há, com isso, um ciclo infinito. Ciclo esse que é, talvez, o melhor combustível para a evolução humana: só se ensina porque se aprende, e só se aprende porque alguém ensina. Aqui, a desculpa perfeita para a convivência – e por que não intimidade ?
Com o tempo, passamos a perceber que absolutamente qualquer um pode ensinar, mas muito poucos sabem fazê-lo com maestria. E isso não tem absolutamente nada a ver com a quantidade de livros que se lê, ou com quantos prêmios e horas um indivíduo passa alisando os bancos da ciência. Ensinar é sobre fazer pensar. É uma provocação à nossa ignorância através da reflexão. Atos complexos que demandam simplicidade e clareza na intermediação, o que requer muita, muita paciência na condução.
No final das contas, o professor é o verdadeiro aluno, porque, para ensinar, é preciso aprender sobre o interlocutor. Não se fala sobre voo aos peixes, nem de carne às girafas. A sensibilidade de adequar o seu discurso e conhecimento aos ouvidos do outro torna a equação ainda mais trabalhosa. Ainda sim, gratificante e engrandecedora.
Aos meus, um eterno muito obrigada.