Hermann Katzewitz, um mago incompreendido
Por Letitia Katzewitz, M.D., de Barrington, Inglaterra.
Em 1890, surgiu na cidade de Cloppenburg um médico, ou assim dizia ser, a curar os males dos habitantes.
Doktor Katzewitz. Muito seguro de si, elegante, com sua maleta de couro e alguns apetrechos os médicos carregavam naquelas épocas.
Cobrava muito pouco, aos miseráveis prestava seus serviços médicos gratuitamente. Esses correspondiam à gentileza com apreço, admiração e vez por outra com doações em mercadorias, de panos a galinhas.
Diziam-no um pouco afeminado, pelas mãos pequenas e delicadas, como de mulheres.
Sem barba, apenas modesto buço sobre o lábio superior, a sombra de certo bigode.
E a estatura menos portentosa, quase de compleição delicada.
Com grande afinidade entre as mulheres, essas sentiam-se bem atendidas e maravilhadas com a delicadeza do doutor e seus conhecimentos dos males as afligiam.
Sua primeira e maior dedicação era nos partos, quase fanático esquema de limpeza no entorno do acontecimento, proibindo a entrada de homens. Tudo cheirava a spiritus, o destilado potente usado para iluminação, feito de mosto fermentado.
Panos cozidos longamente em água, assim como seus instrumentos. E a usar luvas de látex, feitas pela Goodyear, difíceis de achar na Alemanha, pois recentes. Mas sucesso nos partos americanos, havia adotado a prática.
E máscaras, para todos no ambiente.
Os recém-nascidos eram tratados com o mesmo rigor higiênico. As mães recebiam fortes nutrientes e eram proibidas de sair de sua clínica, por 3 dias.
Nos casos difíceis o valente doutor já aplicava o chamado à época corte cesáreo, com sutura do útero por fio de prata. A mãe devidamente anestesiada com clorofórmio.
Um precursor, inegável.
Com tal prestígio passou a chamar-se Mago. E de outros cantos vieram pessoas a procurar curar-se de seus males com esse alopata moderno.
Mas como em toda história, há os invejosos e malvados.
Alguém desconfiou da delicadeza do doutor e certo bando de bêbados irados invadiu a pequena clínica e arrancaram as roupas de Katzewitz.
Era uma mulher, de fato.
Adiante o caso foi ao prefeito, pois em 1890 na Alemanha as mulheres ainda eram proibidas de estudar medicina e odontologia
Que solicitou investigação sobre a já presa doutora, por charlatanice.
Vasculhada a clínica, entre seus papéis encontrou-se o diploma e matrícula de doutoramento, em seu nome Hermann Katzewitz. Além da certidão de nascimento, como Herminie Katzewitz.
No registro da universidade verificaram pela foto, de fato, Hermann/Herminie havia estudado medicina e eram a mesma criatura.
Com notas brilhantes.
A doutora foi proibida de clinicar, acusada de falsidade ideológica, por tê-lo feito onde proibido mulheres estudarem.
Mas a universidade reconheceu adiante uma mulher poder ser tão boa médica como um homem e um jornalista famoso à época solicitou revisão do tema, com advogados.
Que levou à liberação dos estudos médicos às mulheres em 20 de abril de 1899.
Herminie seguiu na medicina e manteve seu apelido masculinizado, Mago.