Em tempos de pandemia...
Por Ricardo Serra, de São Paulo.
Aquele susto foi gigantesco, parado no sinal. O vidro aberto, solitário no automóvel, abordado.
O PM com voz estranha, detonou: - "Companheiro, sem máscara não!"
Em tom meio afeminado, o cara sobre uma bicicleta de pneus grossos.
Com rabo de cavalo.
Verificou com calma, enquanto a mão procurava a máscara no banco do passageiro.
Era moça, uma policial.
Os olhos lindos por cima de sua escura máscara. As pernas, ah, as pernas, torneadíssimas, coisa de ciclista.
A blusa do uniforme minimamente desfolgada, a mostrar bom tórax, com seus complementos.
- "Vai me multar, moça?"
Difícil verificar a reação da criatura, com a mão pousada sobre a pistola guardada, e a curva do joelho sobre o selim, arma em altura estranha. Não usam como os caubóis, coldre pendurado pela coxa. Fica acima, das ancas, da cintura.
E que cintura...
- "Na sua idade deveria ser mais cuidadoso com isso, ouviu?"
Hm, uma afirmação de amplo sentido. Bom, de qualquer forma ouviu? foi melhor que está ok?.
- "E se eu não usar?"
Os olhos da criatura fardada em sua estranha combinação de bermudas e tênis, nas cores da polícia, lembrando indianos, mostraram certo risco de sorriso, percebendo a provocação.
-"Nesse caso terei que prender!"
E o incauto respondeu: -"Nossa, eu adoraria ser preso pela senhora. Mesmo que fosse só um pouquinho."
Voltou a seriedade à agente da lei e dura ordenou: -"Coloque a máscara e siga, não estou aqui para brincar."
O velho foi para casa feliz.