Geografia e geógrafos
Quando alguém diz: sou geógrafo, pensamos cá conosco em aulas de Geografia e os professores, entusiasmados ou não, citando rios e bacias, planaltos e climas ou, complexa, a tal geografia política, uma mescla descritiva daquilo o terreno, ideologias e as armas fazem com as mentes dos desejosos de poder....
Não ser à toa países economicamente pouco determinantes, com populações pequenas, pela posição geográfica, os regimes instalados, e as devidas cargas de ódio coletivo, ocuparem tanto o espaço noticioso: Israel, Cuba, Haiti.
Observamos como a boxeadores, torcendo, entusiasmados. De qualquer maneira determinado o resultado, esquecemos o assunto. Como por lá não há resultados, afinal são muitos anos de brigas, exclusões, desconfianças, racismo e conflitos religiosos, observamos os rounds, ano após ano.
No sentido clássico, se isto existe, Geografia é simplesmente a descrição da terra e aquilo há sobre ela, dos locais onde vivemos, da sua formação, as nuâncias e tudo relativo a este planeta, quiçá outros no futuro.
Saudosista e sonhador, penso no geógrafo não como o dormente professor a falar dos contornos políticos do município de São Paulo (quem inventa esta linhas?), porém no rústico explorador, de teodolito, sextante, botas, caderneta de campanha a desbravar novas paragens.
À la Euclides da Cunha e sua monumental, plástica, completa descrição da terra em Os Sertões, onde se dá a batalha entre os miseráveis. Talvez a melhor descrição de uma paisagem na literatura dos homens. Ler o capítulo inicial, A Terra, induz lá ir, desejar ver.
E a viagem-aventura de Alexander von Humboldt, proibido de passar por aqui, coisa dos portugueses. A mim um dos relatos de conhecimento da terra, flora e fauna mais preciosos dessas bandas latino-americanas.
Talvez os entusiasmados relatos em livros do prof. Aziz Nacib Ab´Saber, com descrições minuciosas da costa brasileira, da Amazônia, a partir de detalhadas fotos de satélite.
Charles Darwin, odiando a burocracia brasileira a exigir mil papeizinhos para ir ao interior do Rio de Janeiro conhecer as matas (pelo visto não era conoisseur ou apreciador do jeitinho, que a burocracia provoca e fomenta).
Suas descrições da passagem pelo Brasil fazem do antropólogo um bom geógrafo. Dos melhores, a rigor, pela grandiosidade do empreendimento na viagem de 4 anos, descobertas feitas e precisão na descrição do visto. Sem máquinas fotográficas, sem mapas precisos.
A grande geociência hoje me parece algo, entretanto, mais desafiantemente complexo. Com ramificações extensas, a examinar de solos profundos ao aquecimento global, de utilizar novos sistemas localizadores como GPS e Amadeus, passando pela moderna e complexa antropologia, pela política global e local, mudanças ambientais provocadas por bichos e bichos-homem, meteorologia e por aí vai.
Talvez dê até algum tédio, a imaginar-se por onde começar e especializar-se...
Talvez fazer como o Dr. Milton Santos, baiano, o geógrafo com a melhor compreensão das questões relacionadas a globalização, ao futuro, por ser um livre pensador, dos raros por aqui; com suas 40 obras, inigualáveis; advogado e doutor em Geografia por Estrasburgo, falecido em 2001, quiçá o maior pensador brasileiro da segunda metade do seculo XX.
Como ele, claro, sem preocupar-mo-nos em demasia, afinal, temos o direito à dúvida: somos assim.