Odara
Por Erica Silva Teixeira, de Salvador
Dei sorte de nascer na Bahia. Mais sorte ainda de vir a esse mundo exatamente na mesma época que homens tão geniais e únicos como Caetano.
Ontem, em sua famigerada "live", uma das músicas tocadas foi "Odara".
Pouca gente sabe, mas essa palavra tem um significado muito próprio.
O dicionário fala assim:
adjetivo de dois gêneros
BRASILEIRISMO•BRASIL - palavra- que qualifica com atributos positivos: belo, bom, excelente etc."um sujeito o.; advérbio de maneira conveniente, em boas condições, confortavelmente."ficar o."
Indo um pouco mais afundo, sua origem rememora duas histórias - ambas com um sentido muito simbólico: a primeira, do hindu. Seria um toponímico, cuja variação seria “Odra”, que é linguagem advinda do sânscrito. Em outras traduções, "aquele que habita o norte da Índia". O termo foi mencionado em um conto épico da Índia intitulado Mahabharata, que são escrituras sagradas do hinduísmo.
Já a segunda fala de nossas raízes. Pertencente à linguagem iorubá (dialeto africano) deriva da expressão “o dara”: o que é bom, belo, majestoso. Muito usada no candomblé, também representa um exu, que seria o infinito, abrindo os caminhos de seus filhos.
Fica muito fácil saber qual o objetivo de caetano ao dizer:
deixa eu dançar
pro meu corpo ficar odara
minha cara
minha cuca ficar odara
deixa eu cantar
que é pro mundo ficar odara
pra ficar tudo joia rara
qualquer coisa que se sonhara
canto e danço que dara
Não temos como negar nossas raízes. Elas falam mais que nossa própria língua - e através dela. Na dança, na melodia e na nossa cultura: um eterno e infinito mosaico de muitas outras histórias e povos.
Obrigada, Caê.