O misantropo e os conservadores
Por Dr. Odorico Leal, de Picos, Piauí
Detectei certa apreensão em alguns colegas que se dizem conservadores.
Pelo que entendi, temem que a sanha por derrubar estátuas não cesse apenas nos monumentos aos escravistas, mas se expanda para todos os ditos heróis dos ditos descobrimentos, depois para todos os símbolos da Cristandade, suas esculturas, seus mosteiros, suas catedrais e, no limite, mesmo às ruínas de Roma e Atenas.
Eu digo que tudo isso seria motivo de grandes esperanças. Pois talvez essa paulatina expansão destrutiva, esse imperialismo do remorso, se repita também nos seres de carne e osso.
Talvez seja um auspício de que, entre tanto material odiável, não consagraremos nosso ódio apenas aos homens brancos, mas que, cedo ou tarde, talvez até tarde, mas certamente em algum ponto glorioso do futuro, odiaremos também as mulheres brancas, e um pouco mais além perceberemos, com certo pudor inicial, decerto, mas perfeitamente superável, que também os homens negros não são lá essas coisas, e, pasmos e sentidos, reconheceremos o mesmo delas, as mulheres negras, e então voltaremos nosso olhar estupefato para os amarelos - arrisco até dizer aqui malditos amarelos -, constatando de imediato que, Jesus, não prestam, são talvez os piores.
Por fim tentaremos negar com todas as nossas forças, mas a verdade do nosso nojo há de se impor contra tudo e todos e admitiremos que, sim, também os nossos índios, os povos originários, os autóctones, é preciso dizer por mais que doa, e dói, são também escória e não prestam, nunca prestaram nem vão prestar.
A humanidade então estará madura para a autoextinção, perpetrando este último - e, em retrospecto, único - ato de grandeza. Todos os demais seres vivos sobre a Terra respirarão aliviados. Nunca um convidado sugou tanto o ar da festa.
Em pouco tempo esquecerão que um dia existimos, que tiveram de viver tantos seguidos milênios de quarentena, restringidos a algumas matas, alguns lagos e florestas, fugindo de nós.
É preciso repetir sempre, com toda devoção: nenhuma vida importa