Sem política, com amor
Por Erica Silva Teixeira, de Salvador
Hoje, o assunto não é política. Mas acaba nela. Como o Dia dos Namorados chegou, acredito que ainda estamos em tempo.
Faço-lhes uma provocação: o que vocês entendem por amor ?
Ano passado, eu quase deixei de acreditar no amor. Não pelo instituto em si, mas pela sua ausência entre os homens. Digo, entre os humanos.
O precipício veio quando decidi abrir novamente essa caixinha em minha vida, que, confesso a vocês, acredito que tenha vivido boa parte de minha existência trancada. Comecei, no meu dia a dia, perceber que o amor acaba por tomar um rumo parecido com o da política.
Tanto mais se falava nisso, tanto menos compreendíamos seu verdadeiro sentido. Menos ainda o que ele representava pra nós.
Comecei a perceber que o amor foi a única coisa que me fez seguir adiante com meus sonhos e planos. Inclusive com os meus recuos. Por que sim, o amor não envolve exclusivamente coragem para enfrentar algo ou alguém, mas principalmente deixar que certas coisas e pessoas não mais nos pertençam e, ainda sim, reverberem em nós.
Em minha rotina, comecei a enxergar o amor nas pequenezas: nos sorrisos de quem eu me importava, nas palavras de quem eu admiro, nos abraços de quem sinto falta e, principalmente, nos silêncios de quem, sem precisar dizer uma única palavra, me compreendia. Porque amor, meus caros amigos, envolve leitura aguçada e um constante exercício dos nossos cinco sentidos. Envolve também escuta e, principalmente, tempo.
Embora tenha vivenciado relacionamentos incríveis, não foi com eles que aprendi mais sobre o amor. Foi quando deixei de tê-los. Porque sim, o amor é um negocio meio masoquista: amamos, muitas vezes, o que não entendemos, o que desconhecemos e, principalmente, o que estamos por descobrir. Talvez, inclusive, seja por isso que muitos relacionamentos acabam: a falta da descoberta nos provocaria uma certeza monótona. Nem todos se acomodam na constância. E o exercício do aprofundamento envolve uma devoção inalcançável aos que passeiam em superfícies.
Brinco dizendo que amor é sobre duas coisas: a primeira é sobre querer estar perto. Parece simples, não ? Mas reflitam bem: queremos perto quem amamos. Seja na fala, no olhar, fisicamente, enfim .. a segunda é sobre a incompreensão. Isso mesmo: suspeito que sempre existirá uma borderline para os amores de toda a vida, extrapolando uma parte do outro que jamais entenderemos e que nos faz, de alguma forma, ficar (para sempre).
Aqui, compreendo a relação direta entre o amor e a política. Ele só tem sentido quando queima e só se concretiza na constância, até que se exaura para começar tudo de novo, quase que como uma simbiose autofágica. O mesmo acontece na política. Ela só ganha sentido na dinâmica e qualquer inércia faz com que a sua razão de ser perca sentido. É necessária constante energia para que exprimam sua polissemia.
A cada momento que amo, menos compreendo porque o faço, mas consigo perceber o exato ponto de acometimento da enfermidade. Na política, sinto o mesmo: em cada gesto e movimento, vejo o percurso dessa eterna batalha fazer sentido: em mim e no outro. Assim como no amor.
Também aprendo, todos os dias, sobre o amor. E entendo que ele se renova. De outras formas, com outras pessoas, em outros corações, mas com a mesma chama. Assim como a política.
Que possamos praticá-los para, enfim, fazer valer cada um deles.
Ambos, sem dúvidas, me fazem ser grata pela vida.
Que possamos, mais vezes, ser assim.
Feliz dia dos namorados !