O amor, por Nelson Rodrigues?
Por Erica Silva Teixeira, de Salvador
Eu já criei infinitas teorias sobre o amor. Todas falíveis. Algumas menos que outras.
Hoje, pela manhã, em reunião de cúpula com primos, sobre uma cama na casa de veraneio - desfrutando o ócio -, deliberávamos sobre esse sentimento (e todos os seus desdobramentos). Em suma, chegamos a consenso mínimo sobre “querer estar juntos” (coisa que eu já dizia faz tempo).
Bem verdade, a origem dessa pauta começou na sexta feira, quando, em conversa com um conhecido, eu relatava uma história - daquelas que Nelson Rodrigues morreria de inveja por não ter inventado antes, bem no estilo “A vida como ela é..” -.
Um sujeito, daqueles que não conseguimos encontrar defeitos, perde, aos 21 anos - com a sua primeira namorada -, a virgindade e junta os seus panos de bunda com ela. A moça passa mais de década fazendo dele gato e sapato (traições, insultos, deboches e todo o resto) e, quando não havia mais o que inventar, decide adotar uma criança ( já que os métodos convencionais não estavam dando frutos ).
O rebento, com 8 meses, inicia uma convivência de quase 2 anos e pfff … a sujeita acha por bem não mais cuidar da criança - segundo relatos, enjoou - e parte para terras cariocas “aproveitar o bom da vida”. Tudo isso às custas do rapaz com quem se casou.
Desesperado, ele decide ir atrás dela e deixa a criança com seus pais. A mãe biológica, que havia inicialmente concedido algo como uma “guarda compartilhada”, decide tomar a criança de volta ( ainda que sem muitos recursos para cuidar do menor, já com quase 3 anos ). Instaurado o caos: na família e na cabeça do menino, que já chamava o jovem rapaz de “pai” e seus pais de “vovô” e “vovó”.
Nisso, me pergunto: quais os limites do amor ? Como determinamos, em nossa cabeça, até onde iremos - ou não - sentir algo por alguém ? Seria possível escolher “ não mais ” amar ? Iria além …. o que desperta, em nós, amor por terceiros ? Há algo muito egoísta nesse sentimento quando percebemos o quanto de projeção existe nesse despertar.
Ao mesmo tempo, muitas vezes não gostaríamos de nutrir tamanho afeto por determinadas pessoas, como, por exemplo, no caso dos avós: filhos grandes e criados e, agora, um “neto” que não escolheram ter, mas que já ocupa espaço no coração deles com toda a sua ternura.
Acho que sempre seremos assim.