Clones, clones...
Por Dr. Odorico Leal, de Picos, PI
Abro o aplicativo do banco: alguém andou vivendo uma vida às minhas custas.
Mas uma vida modesta. Pagou uma prestação da Faculdade Estácio, no Rio de Janeiro. Pôs quarenta reais de crédito no celular.
Comprou qualquer coisa em certa LC Refrigerações - um ventilador, talvez, para o verão. Necessidades imediatas. Brasileiras.
Telefono ao banco e bloqueio o cartão.
O meu clone seguirá sozinho. Talvez conclua ou não o curso na Estácio
No telefone, o atendente me recita as contas na fatura e pergunta se contesto essa ou aquela. Minha vontade é contestar tudo. Custa crer que gasto tanto com IFood, quando posso cozinhar - e cozinho bem.
Há uma noite num tal bar Caracol. Contesto! Mas lembro e logo me retrato: foi o aniversário de Clara, digo. “Ok”, o atendente me concede, aborrecido.
Ao fim, faço as mesmas perguntas mil vezes. Confundo estorno com estorvo.
O atendente - Leonardo - se impacienta. “Senhor, compras presenciais. O senhor pode fazer compras pre-sen-ci-ais.”
Por que tão duro, Leonardo? Não quero desligar.
As respostas respondem, mas não me saciam, não me resolvem. Tudo é uma grande piada, sobretudo minhas finanças devassadas.
Por fim, tudo bem, eu digo, e tchau.
Desligo o telefone e abandono para sempre esse momento em que três vidas - a minha, a do estudante da Estácio e a do valente Leonardo - se entrelaçaram.