Alteridade
Por Erica Silva Teixeira, de Salvador
Uma das coisas mais bonitas do aprendizado é quando você consegue enxergar ao seu redor de que forma determinado ensinamento pode transformá-lo numa pessoa melhor.
O conhecimento pelo simples conhecimento inutiliza o bem que podemos fazer ao próximo.
Eu jamais havia ouvido falar na palavra alteridade. Pela primeira vez, em 27 anos, descobri a sua existência me preparando para uma prova de mestrado.
Nessas últimas semanas, estudando a disciplina com uma grande professora e elaborando o trabalho acadêmico, vim entender um pouco do seu sentido, que poderia ser resumido em uma grosseira frase: precisamos enxergar o outro.
Se não exercitamos essa consciência, nosso próprio existir perde o sentido.
Esse enxergar envolve diversas perspectivas: a do respeito, a da responsabilidade afetiva, a da sinceridade, a de não julgar, a de ser leal, a de estar verdadeiramente preocupado com tudo o que aquele outro traz consigo, fora o que ele representa numa estrutura ocidental marcada pelo patriarcado (tô é metida com tanto estudo).
Hoje, em sala, debatendo uma das obras de Byington e o fantástico surgimento do arquétipo das alteridades como consequência da dualidade entre o matriarcal e patriarcal, lembrei-me bem da nossa mãe dos pobres.
Se por sorte, coincidência - dessas que eu adoro - ou forças universais, a proclamação de Irmã Dulce como santa (nordestina, baiana e mulher, coisas que me envaidecem um pouco, confesso) é só mais um belo exemplo de como o exercício de alteridade - somado ao amor pelo que se faz - possui uma força tão grande que se perpetua na história.
E nos lembra também, mais uma vez, o que Ocride* já dizia: “felicidade é como uma festa: ninguém a faz sozinho”.
Compartilhemos conhecimento: troca melhor não há.
* Ocride é Euclides José Teixeira Neto, advogado, político e escritor baiano, falecido em 2000.