O errante navegante...
Por Dr. Odorico Leal, de Picos, PI
Nas últimas semanas, o brinquedo preferido do Martim é um amontoado de caixas de papelão que transformamos em carro, casa, avião, mas, principalmente, barco.
Cabem dois.
Passa fácil duas horas em trabalhos de cabotagem, a bombordo e a estibordo. Mas não iça vela sem antes suprir a embarcação dos instrumentos necessários: um balde de pregadores, certa cesta de canetinhas coloridas, a maleta do Dr. Dodói, com estetoscópio, termômetro e injeção (talvez ciente dos riscos do escorbuto, que massacrou tantos navegantes no século XVI).
E, claro, leva sempre alguma boa obra literária (ultimamente, a escolhida é ‘ Minhas Imagens do Japão ’, sobre o atribulado cotidiano da estudante Yumi - não sei se procura assim informar-se sobre os costumes japoneses antes de desembarcar por lá, como fizeram os portugueses em 1543).
Como as horas no mar são longas, o tédio às vezes se abate. Para isso há uma alfaia de brinquedo e um chocalho, e com isso tiramos algumas loas e canções do mar. Que se encerram de súbito, sem bis.
Não se dobra às insistências. O método de comando do capitão é invariavelmente autoritário, digno de um Ahab. Mas não há sinais de loucura.
Não persegue baleias brancas. Nem estabelece um destino claro. Também nunca chegamos a lugar nenhum.
Contenta-se com a viagem. “ Um copo de mar para navegar ”.
Sempre uma boa lição.