Remarque
Relendo minhas abobrinhas, as quais insisto abusadamente em aqui divulgar, vejo existem tendências; textos com alguma germanicidade nos temas. Alerta-me para tal uma paciente leitora e editora minha conhecida, especializando-se na área dos escritos por falantes naquela linguagem, o alemão.
Em recente espaço de tempo editou dois ou três livros de autores alemães. Por sinal excelente pessoa, nos correspondemos quase diariamente por estas vias eletrônicas.
Outra editora, senhora muito experiente no assunto, com a qual troco lacônicas fofoquetas eletrônicas de tempos em tempos, e impressões sobre escritos de velhos, talvez também novos trabalhos de bons autores, me fez relembrar escritores ausentes, sumidos, apesar de sua importância.
Esquecidos?
Não sei, alguns, me parece, imerecidamente.
Erich Maria Remarque, meu particular herói literário: pela boa escrita, pelo romantismo e principalmente pelo pacifismo. Sua principal obra Nada de novo no front oeste posso sugerir como leitura obrigatória (e palatável); aliada às descrições dos absurdos da guerra feitas por meu pai, que participou, formaram em mim consciência absolutamente impermeável à propagação de doutrinas com cunho violento.
Entretanto não vejo em livrarias. Pouco se fala de Remarque.
Outro alemão de quem menos ouço atualmente, premio Nobel de Literatura, é Heinrich Böll. Não tão romântico como Remarque, porém muito apreciado nos anos 60 e 70. Nada se comenta, ninguém lê.
Na área anglosaxônica o fenômeno é menos, digamos, cruel.
Graham Greene é lido e comentado, fazem-se filmes de suas obras. Ernest Hemingway já anda menos enaltecido e divulgado, todavia o Velho e o Mar, sua obra maior, continua ainda o melhor livro escrito neste planeta. E firmemente reeditado. Somerset Maugham anda bem, Hermann Melville melhor (Moby Dick, lembram?); em até certo eufórico momento de revivencia. Aprecia-se muito a escrita dos velhos na língua de Shakespeare; pelo lado alemão, bem, quase nada se desprende.
Penso ser decorrente da quantidade e distribuição de leitores mundo afora, pois apesar de clássica e importante, apesar de Goethe, é lingua pouco falada, a dos autores. E da especificidade dos temas, sempre profundamente teutônicos, locais, quase bairristas. Aos anglosaxônicos os temas gerais, amplos como o mar.
Literatura nos faz navegar, os alemães talvez não fossem tão arrojados em lançar-se aos horizontes molhados e trazer-nos o que não conhecemos.
Ou você já saiu por aí a pescar peixes-espada ao largo de Cuba, fisgar e voltar de mãos vazias, em uma miserável chalupa à vela? Com a literatura é possível, certa e certeiramente mais emocionante do que descritos cozidos de peixe pelos lados de Hamburgo, em épocas cinzentas...