Hermó

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro & Mello

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Artigo nº 973 - 18/11/2022

Glória e ódio de Lindovalda Santos de Ortiz

-"Os ovos só quando ela descer, certo?"

- "Claro".

- "Vou dar uma melhorada nessas torradas, ficaram moles, certo?"

- "Certo"

- "É para fazer chá mesmo? Ninguém toma."

- "Se sobrou água, um pouco, só pela data".

- "Suco só para ela que gosta, está bom?"

- "Sem problemas"... e segue com o seu solitário desjejum, após esse diálogo um tanto tenso com a hoje menos simpática assecla.

De repente um cheiro terrível de coisas queimando: as torradas!

Corre ao forno, já fumaçando. Pega o pano ali à mão, puxa da bandeja.

O pano desliza, o dedão já machucado com anterior ato de sacar o terceiro pino de nossos curiosos plugues brazucas, frita no alumínio.

Talquei, agüenta mancebo! Abre as janelas.

Entra a filha da distante Gideão da Serra no seco Nordeste, olha para a fumaça e diz:

- "Eitcha, esqueci da porra! Estou muito nervosa hoje! Puta que pariu! Merda! "

E seguiu com a saraivada de palavrões de preencher a cozinha, a ponto os azulejos enrubescerem.

Definitivamente o aniversário de casamento do casal é das datas mais irritam a pobre Lindovalda, por alguma misteriosa razão.

Desde rearranjar aos trancos duros a mesa do matutino café o patrão havia posto, fazer a rubiácea de levantar os defuntos do Araçá, dobrando a quantidade de pó já havia o velho preparado, resmungar pelos cantos e bater portas.

Não é algo que a faz feliz, aquele específico dia.

Mas ele entendia.

Há 35 anos desta forma... temos nossas paranoias, somos assim.

Raivoso desjejum!

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