Hermó

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro & Mello

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Artigo nº 57 - 18/11/2022

O altar

Um bom amigo, a algum tempo atrás, sugeriu-me escrever sobre uma hipotética sociedade de mulheres e homens com rabos, os de fato, caudas, enfim. Seriam primatas como nós, sapiens sapiens ou reptílicos mas rabudos, com extensões corpóreas similares aos símios menos evoluídos. Divagava ele sobre as questões em geral, como a indumentária cobre-rabo, as formas distintas das cadeiras e como sentar, regras de uso do rabo em público, perversões com o dito, na intimidade dos casais e por aí vai.

E fatos inevitáveis, como pisar no rabo d´outro. Ou afagar, com boas ou péssimas intenções. Recolhê-lo. Chutá-lo. Enfim, toda sorte de atos e fatos que, resumidos, bem pensados, nos levariam a verificar nossa real comunidade em cultuar o rabo: mesmo inexistente.

O nosso traseiro, o brazuca-portuga rabo ou bunda, é onipresente. O primeiro olhar às belas se dirige à retaguarda, poço de admiração a nos alimentar com bons ou distintos pensamentos. Vangloriam-se disto as Raimundas, personagem criada pelo imaginário brasileiríssimo, aquelas tentadoras mulheres feias de cara mas tão boas, com mil perdões, de bunda. Ou torcemo-nos em decepção, quando a linda moça levanta e nota-se, coitada, não "ter bunda". Enfim bunda, rabo e outros termos fisiológicos são determinantes para a classificação social brasileira.

Até ao ponto de formidável elogio, seguindo por uma vereda, a classificar atributos de senhoras, mormente pelo traseiro, a deixar levemente ofendida se proferido de fato, mas no fundo, bem no fundo o bonito traseiro é motivo de orgulho. "Bela bunda" demonstra superioridade na linhagem feminina, para desgosto das feministas. Por outro caminho, no lado masculino, a pior ofensa; ao chamar o sujeito de bundão. Não tanto porém o rabudo, este de sorte. Nuâncias da língua, complexa mas viva. Muito viva.

Para completar este apanhado rabo-bundístico, com perdões pelo intragável neologismo, conta-me uma sobrinha espivetada pequenos detalhes sobre práticas religiosas, relacionadas aos traseiros humanos. Sem perversões, notem por gentileza. A mãe da mocinha, médica, por alguns anos assistiu a famoso cirurgião, cuja especialidade é o trato retal e suas dolorosas deformações por hemorróidas. Que recompõe o formidável sujeito, com rápidos e precisos golpes de bisturi. Um virtuoso artífice da arte da cura dos trololós doentes.

Encantado com a própria arte, comum quando alguém sabe que sabe de fato, porém modesto, criou certo ritual que denominaria este pobre escriba de um verdadeiro altar. Antes de cada cirurgia, paciente já posicionado como um frangão a ir ao forno, as flores anais à mostra para cederem ao bisturi da poda necessária, o tal doutor pede silêncio no recinto. Cessam as atividades, o anestesiologista sossega por instantes, o tilintar dos instrumentos é interrompido pelas enfermeiras, houve-se apenas o discreto apitozinho de algum aparelho a acompanhar o ritmo humano.

Ajoelha-se, perante o campo operatório, o doutor. Pede benção e boa guia, para que aquele rabo volte a ser o que era, graças às habilidades que tem, conduzido pelas graças do senhor bom Deus. Reza com fervor, bate cruzes, abençoa o fiofó do paciente e terminado o ritual, com ânimo aceso parte para mais uma cura.

Cada um com seus altares. Somos assim.

Hermógenes de Castro & Mello com uma proposta de Eduardo Abouchar e Erica Teixeira

Seres superiores com rabos?

A beleza do altar.

Comentários

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Thomas - 22/02/2008 (10:02)

Estás inspirado! Que tal o "saitche" www.georgefritz.com.br entrar no ar?

JORGE DOS SANTOS - 21/02/2008 (11:02)

Deturpando a coisa toda, me permito, já antecipadamente pedindo desculpas, transcrever notícia que vem lá de Jerusalém: Deputado israelense culpa homossexuais por terremotos JERUSALÉM (AFP) - Os homossexuais são responsáveis pela onda de terremotos que atingiu Israel nos últimos meses, porque Deus advertiu que não se deve "menear" os genitais indevidamente, disse nesta quarta-feira no Knesset (Parlamento) um deputado israelense ortodoxo. "Deus disse que sacudiria o mundo 'para despertar-vos se menearem vossos genitais' onde não tenham que fazê-lo", afirmou Benizri em uma comissão parlamentar que estuda medidas para proteger o país dos tremores. EU NÃO ACREDITO, OU O BRASIL JAMAIS PARARIA DE TREMER.