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Artigo nº 390 - 18/11/2022

Remédios na ficção

Por Carlos Eugênio Junqueira Ayres, de Salvador

Enquanto o governo briga com os grandes laboratórios sobre a obrigatoriedade dos remédios serem designados por nomes genéricos, em vez de fantasia, os consumidores vão engolindo suas pílulas sem saber muito o que estão tomando. Confiam nos seus médicos, que estudam pra receitar, ou nos balconistas de farmácia, que ganham pra empurrar.

Não se quer aqui entrar no mérito da questão que, como se diz por aí, é briga de branco, e não se deve meter a colher em briga de marido e mulher. Mas que nomes de fantasia de remédios são interessantes, lá isso são. E, se acabarem, vai se perder uma importante fonte para o imaginário popular.

Querem exemplos?

Vamos imaginar o encontro de dois grupos pertencentes a civilizações milenares. O chefe de um deles, Pankreon, se adianta e, com o braço levantado, saúda os visitantes:

¾ Salonpas!

Os visitantes podem ser de um país do sudeste asiático, a Colchicina, ou habitantes da cidade chinesa de Xantinon, pouco importa. A associação de idéias é fonte de inspiração para os artistas e principalmente escritores, como a falecida poetisa goiana Cora Coramina. Os loucos também estão utilizando a imaginação na arte como meio de cura, em vários Nasalcônios do país.

Os nomes de fantasia dos remédios estão em todo lugar, inclusive na literatura brasileira. Como é o caso do mais famoso livro de Machado de Assis, Dom Casmurro, que trata de problemas de ciúme entre Bentyl e Capitosse.

Mas fantasia mesmo a gente encontra é no Carnabol, aquela confusão, uma Butazona! Por sinal, ano passado, de tanto ver bundas em cima dos trios nos circuitos da cidade, um conhecido meu teve um Espasmoplus e ficou Ciclopégico.

A gente não deve ser Dogmatil, como dizia o filósofo grego Hipoglós. Em todo o caso, um bom exercício de imaginação é ficar olhando o céu à noite e tentando identificar uma estrela-anã, ou Rubranova, na constelação de Omcilon. De astros entendiam muito bem os egípcios, que há milhares de anos já desenhavam mapas do céu, como o que foi encontrado na tumba do faraó Krinohepat.

Por sinal, essa tumba só foi descoberta recentemente pelos arqueólogos, após anos de escavação. É que a área onde se encontra, no Alto Egito, havia sido soterrada por uma devastadora Terramicina. Depois de muita discussão sobre o local das escavações, Furacim, fura não, os egiptólogos chegaram ao ponto certo.

Coincidentemente, um mapa parecido foi encontrado na pirâmide de Trimexazol, no sul do México, junto a um antigo instrumento musical de cordas maia, a Xylocaína.

No mais, quem está certa é minha mulher, a Ismelina, que prefere se recolher ao jardim lá de casa e observar a revoada de Passiflorines, em vez de ficar indo para fila de bancos, como fazem os Estafilóides.

Os outros que se Foldan!

Jornalista e escritor baiano, nascido em Salvador em 1945, Carlos Eugênio JUNQUEIRA AYRES é autor dos livros "O mistério do engenho", romance, Prêmio Copene (Braskem) de Literatura-Ficção/1999, editado pela Fundação Casa de Jorge Amado, e "A rede do coronel", contos, publicado pelo selo Letras da Bahia da Fundação Cultural do Estado em 2006

1 O bem-humorado texto do ilustre jornalista Carlos Ayres, sobre remédios.

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