Hermó

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro & Mello

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Artigo nº 38 - 18/11/2022

Colunas a premiar, simbolicamente

Nesse nosso grande Brasil onde nunca tantos lêem tão pouco jornal como atualmente * (maiores tiragens por volta de 300.000 exemplares/dia), a questão do título deste escrevinhado é desafio me impus: quem escreve melhor, a ponto de atrair o público a comprar jornais?

Não citarei nomes, conclua-se como se achar conveniente, porém a primeira bomba já detono logo de cara: nosso melhor colunista é gringo. Escreve muito bem, em grande jornal paulistano, às segundas-feiras. Não se perde na inútil política pois, ciente do papel de estrangeiro, não futuca os brios. O velho esquema: brasileiros podem falar mal do Brasil, é até opção corrente. Entretanto se gringo falar, aí é ofensa. Da grossa. Além disso, alguns colunistas de política perdem-se em indignações permanentes e uma salada de siglas, que até aos locais torna-se enfadonha.

O cara é bom, conciso e leitura agradável. Vai para o pódio, na elevação central. O segundo melhor, pela criatividade porno-potente repetitiva do escrito, é de jornal concorrente, parece-me que o maior diário da nação. Escreve todos os dias, faz trocadilhos inteligentes e ajusta as palavras de forma engraçada. Termina pingando colírios, como sempre escreve; faz anos. Segundo lugar, merecidamente.

Na área dita “séria”, penso ser senhora carioca de nome teutônico, bonitona, com coluna imensa de escrita impecável merecer o terceiro lugar. Um pouco dextrovolúvel, sem exageros. Discorre com acribia, elegância e é prazeroso ler.

A menção honrosa vai a outro carioca, cineasta; escreve semanalmente, não lembro agora se às terças ou quintas. Boas tiradas, algo prolixo, porém; e a destilar aquilo a classe média leitora com certo halo tucaneiro pensar da atualidade. Concordando com o talento; seu livro com as crônicas é sucesso retumbante.

Há senhor baiano, literato famoso, que escreve aos domingos, mas não me encanta. Perdeu-se no retratar do Zeitgeist brasileiro, está algo redundante. E outro, gaúcho, divertido às vezes, alinhado demais com os chavões burgueses de genros malandros e filhas ingênuas. Admita-se porém excelente chargista, discretamente egocêntrico; com finesse.

O resto, incluindo-se alguns ex-presidentes, almirantes aposentados, ex-ministros, escritores embolorados e políticos em geral são enfadonhos, lúgubres, pessimistas e de tanto negativismus brasilis, desanimam abrir o periódico. Muitos leitores hoje se encantam mais com as cartas de outros leitores, de um dos periódicos de projeção, ignorando as monolíticas colunas acima. O outro diário, o maior, até naquela seção de cartas faz determinado "desmentidolismo oficioso": a torna monótona, lê-se menos.

Certo jornalista, radicado em Londres, resumiu com comentários desairosos como anda nosso jornal-colunismo. Não transcreverei, muitos devem ter lido.

E, de fato, as colunas, como a sustentar o grande edifício jornalista do país, andam desgastadas, manchadas e sem as belas formas do passado. Saudosismo? Sempre.

Mas nós, esses poucos, ainda lemos; somos assim...

* Onde me ocupo durante o dia, há um grupo de aproximadamente 50 pessoas. Penso que só eu o faço regularmente, o tal ler jornais... avanço da Internet? Em parte, mas não só isto.

Art Buchwald, outro gringo, talvez o melhor colunista de todos os tempos. Por aqui a coisa anda desanimadora...

Comentários

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Thomas - 15/12/2007 (21:12)

Melhor: Matthew Shirts, segundo José Simão, terceira Dora Kramer e menção ao Jabor. O baiano é João Ubaldo e o gaúcho é o gaúcho. Hermógenes é Thomas Bussius. Marcelo Coelho é complicado demais para mim e um pouco ácido. Prefiro os com algum humor. Calligaris é bom "but not outstanding". Enfim, é como dizia José Tadeu de Oliveira Bretão: "se dependessemos dos colunistas de jornal, ficaríamos sem opniões".

Marcos - 14/12/2007 (20:12)

Acho que vc deveria dar nomes aos colunistas, ainda que sejam (possivelmente) perfeitamente identificáveis. E me parece também que sua crítica ignora solemente Marcelo Coelho e Contardo Calligaris, dois excelentes colaboradores da Folha, cujos artigos, invariavelmente ou quase, são sinônimo de ótima leitura. Bem, é tudo uma questão de opinião, de gosto. E minha opinião aqui, na verdade, é apenas esta: você não deveria se esquivar de dar nomes aos bois. Há uma certa covardia, se me permite o termo talvez um pouco rude, nesse seu constante esquivar-se de nominar as coisas e pessoas, inclusive a si próprio -- pois Hermógenes escreve o que vc pensa, não o que um suposto Sr. Mello pensaria... Abraço, e antes que passe a oportunidade: bons os seus artigos, em geral. Parabéns.

hermó - 10/12/2007 (11:12)

Com um detalhe: os jornais de fim-de-semana por cá são hoje apenas catálogos de imobiliárias. De 300 páginas na média deste fimde semana, estimo em 200 as de propaganda, mormente lançamentos de prédios.

Jorge dos Santos - 10/12/2007 (11:12)

Observando a totalização da circulação dos 16 mais importantes jornais do País, temos a Folha de S.Paulo como campeã, com uma circulação total de 9.303.055, vindo, em segundo lugar, O Globo com 7.490.768. Seguem-se: 3º - O Estado de S.Paulo, com 7.142.521; 4º - Extra, com 6.782.087; 5º - O Dia, com 5.826.336; 6º - Correio do Povo, com 5.401.886; 7º - Zero Hora, com 5.191.137; 8º - Diário Gaúcho, com 3.204.409; 9º - Agora São Paulo, com 2.285.784; 10º - Diário de S.Paulo, com 2.273.763; 11º - Gazeta Mercantil, com 2.177.959; 12º - Jornal do Brasil, com 2.137.587; 13º - Estado de Minas, com 2.134.230; 14º - Lance, com 1.838.535; 15º - Jornal da Tarde, com 1.768.968; e 16º - Correio Braziliense, com 1.531.691.Nosso maior jornal, a Folha de S.Paulo, tem uma circulação média, de segunda-feira a sábado de 299.473, e de 311.294 aos domingos. Pouco? Então observem a soma da média de circulação desses mesmos jornais aos domingos (dia em que as tiragens são maiores): pouco mais de 2 milhões e duzentos mil exemplares. Isso mesmo, juntos, nossos 16 maiores jornais não tiram, num domingo, nem 2,5 milhões de exemplares. (Jornalistas & Cia.) O Brasil, onde até o presidente diz que ler é muito chato, é o terceiro país com o pior índice de leitura (28 jornais para grupo de mil), à frente apenas do Equador (26) e do Haiti (6,9 exemplares). Pobre país.

Cornelia - 10/12/2007 (10:12)

É uma tristesse, voilá. Mas nem todos são educados por pais que proibem a TV e incentivam a leitura, nem que seja de gibis, excetuadas as fotonovelas. Na verdade "Pisa" disse tudo a respeito. Nada mais precisa ser adicionado.