Hermó

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Artigo nº 1004 - 18/11/2022

Desgoverno

Por Erica Silva Teixeira, de Salvador

Que a fala do Presidente da República foi irresponsável, inconsequente e criminosa, todos sabem. Não preciso insistir em truísmos.

O que me preocupa, em verdade, é sobre o que isso representa. Isso, digo, em seu valor simbólico: Messias, seus eleitores e a postura que ele tem, investido no cargo de mais alto valor em um Estado Democrático de Direito, que é o de Presidente.

Jair pede escusas à postura de líder. Porque um presidente democraticamente eleito precisa, obrigatoriamente, exercer esse papel e estar um passo à frente da nação, jamais acima. Mas sempre abaixo, afinal, é o seu maior funcionário.

Como esperar isso de um homem que valora seus termômetros tomando como base e referência incontestável outro tresloucado que, igualmente, acredita existir uma histeria em torno da pandemia oficialmente decretada pela OMS ? Sim, refiro-me a Donald Trump.

É assombroso perceber que, para além de suas responsabilidades fundamentais de unir, agregar, deliberar e, principalmente, conciliar, Bolsonaro se furta a todos esses nobres verbos para negar a gravidade de um problema mundialmente reconhecido e, mais que isso, reproduzir o discurso mais desonesto que eu poderia ouvir da boca de um homem ELEITO: mais vale o dinheiro do que a vida.

É isso. O patrimonialismo elitista e escravocrata do ~cidadão de bem~ acaba de se personificar em seu mais alto posto, na voz do homem que, reiteradas vezes, disse: Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.

Equivoca-se, Sr. Messias. Suas premissas se contradizem com suas conclusões. Deixe-me auxiliá-lo: Dinheiro acima de tudo, Mercado Financeiro acima de todos.

Igualmente preocupante são seus representados. Indivíduos que negam os números e, principalmente, a democracia frágil e desigual que vivemos. Estes, inclusive, que tanto venderam a eleição de um incompetente fundados na defesa de um Estado Mínimo e hoje, vejam só, são os primeiros da fila a necessitar de auxílios, concessões e incentivos fiscais do "criminoso" Estado. A incoerência não para. Ela, inclusive, é a marca mais sólida do governo de Jair Messias Bolsonaro. Aliás, de toda sua família, engasgada até o talo de regalias oferecidas pelo seu -suposto- maior inimigo: o governo.

Nas próximas eleições, se tivermos -porque nem disso mais temos certeza-, cuide melhor de sua propaganda.

Ainda que com muitos privilégios, me sinto em uma completa distopia. Tão forte que, suspeito, passo a acreditar cada dia mais em bolas de cristal. George Orwell, Huxley e Bradbury certamente tinham as suas dentro de casa. Até porque não é apenas o presidente que possui licença poética para acreditar com fervor em sandices.

"Big Brother's watching you".

Quando a política deseja suprimir a realidade e a ciência.

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